Passeios
Em Portugal, país de cerca de 10 milhões de umbigos, acaba de ser constituído um movimento cívico.
ACTIVIDADE rara. O movimento destina-se a protestar contra o estacionamento abusivo que interfere com direitos da maior parte da população da cidade de Lisboa, o de circular a pé em áreas que lhe são destinadas e que foram tomadas de assalto para estacionamento de automóveis. O protesto traduz-se na afixação de um autocolante nos veículos estacionados em áreas destinadas à circulação de peões.
Um jornal que dava conta da criação do movimento dizia que a acção "não reúne consenso". Na verdade, o labroste que atropela os direitos dos outros não concorda que lhe chamem a atenção para a selvajaria, menos ainda quando a chamada de atenção se reveste de uma forma que de algum modo atinge, nem que seja com a simples cola de autocolante, a extensão do "ego" que é o "popó".
Em muito poucas cidades da Europa é possível assistir às manifestações de barbárie que podem ver-se em Lisboa, e em geral em Portugal, nesta matéria. O ‘blog' do movimento em apreço (Passeio Livre) ilustra bem que a realidade vai muito para além da imaginação mais delirante. No comum das cidades civilizadas, para que os automóveis não estacionem em cima dos direitos dos peões não é necessário qualquer dispositivo ou ameaça: basta o civismo. Mas, por cá, o civismo morreu atropelado na passadeira. De maneira que "não há consenso". E resta ver que partido tomam, quando for o caso, os que deviam assegurar o direito ao passeio livre. Aposto que vão comentar que sim senhor, que os peões têm os seus direitos, mas que há outras formas de fazer respeitar a lei. Quando sob a sua tutela o que está em vigor é a lei da selva.
«DE» de 31 de Março de 2009Etiquetas: autor convidado, JPG
4 Comments:
O que é curioso é ser necessário fazer um movimento cívico com o propósito de exigir que... se cumpra a lei!
E, acessoriamente, exigir que aqueles a quem pagamos o ordenado para tratar disso façam o seu trabalho!
Já agora, uma correcção ao que JPG diz no início da crónica: o blogue em causa não se preocupa só com Lisboa, recebe contributos (fotos e textos) de todo o país.
Foi importantíssimo ler o que JPG escreveu. Importantíssimo.
Concordo com quase tudo no texto de João Paulo Guerra. A excepção é esta passagem: "No comum das cidades civilizadas, para que os automóveis não estacionem em cima dos direitos dos peões não é necessário qualquer dispositivo ou ameaça: basta o civismo." Na maioria das cidades civilizadas, para além do civismo de uma parte importante dos cidadãos, os condutores sabem que correm sérios riscos de pagar uma coima e ter o carro rebocado ou bloqueado se estacionarem nos passeios ou nas passadeiras. O que não existe é a impunidade generalizada que grassa por cá.
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