9.7.09

Burka, véu e democracia

Por C. Barroco Esperança
JOÃO CÉSAR DAS NEVES (JCN) excede-se no zelo com que divulga o pensamento oficial da Igreja católica. Na habitual homilia de segunda-feira, no DN, referiu-se ao discurso que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, pronunciou em 22 de Junho no Parlamento, facto inédito, em França, desde 1875.

JCN vituperou este excerto do discurso: "A burka não é um símbolo religioso, é um símbolo de servidão, é um símbolo de abaixamento. Quero dizer solenemente, ela não será bem-vinda no território da República." O forte aplauso dos deputados franceses foi, segundo JCN, «da mais tacanha intolerância e incompreensão». (...)

Texto integral [aqui]

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4 Comments:

Blogger Eva Gonçalves said...

Não me parece que seja um problema de teocracia versus democracia... mas antes de democracia versus algo parecido...Se é verdade que o uso da burka no ocidente, pode ser resultado de manipulção familiar, de hierarquias religiosas, ou de grupos com interesses políticos, também pode ser a livre expressão de uma vontade, que nos custe a admitir, por intolerância(também nossa) a outras culturas. De qualquer modo, para mim, é inadmissível que no país da Liberdade, (como em qualquer outro), se não dê o direito de escolha... por princípio. A proibição seja do que for, em democracia, deve ser cautelosa... Quando foi da probição do véu nas escolas, também vimos jovens informadas, reivindicar direitos democráticos e a radicalizar posições... Evidentemente que a educação para a cidadania e a educação sexual, são fundamentais para salvaguardar a acessibilidade a escolhas informadas. Assim como a garantia de igualdade de oportunidades entre géneros, etnias e religiões professadas. O uso de burka, não é exactamento o mesmo que o uso do véu...pode ser simbolo de repressão, mas não deixa de poder ser símbolo, para muitas mulheres, de identidade cultural. Visto de que prisma for, evidentemente, que o seu uso deve ser fortemente desencorajado, mas daí a proibir... apesar de admitir que possa estar a ver tudo errado, e que nada percebo sobre o assunto, parece-me que não devemos nunca perder de vista os valores de liberdade que nos inspiram e que justamente, pretendemos que sejam por outros, modelados...sob pena de sermos apenas modelos de hipocrisia...

9 de julho de 2009 às 17:03  
Blogger Carlos Esperança said...

Eva Gonçalves:

A sua posição é, no mínimo, tão respeitável como a minha. No plano da defesa da liberdade, que ambos defendemos, é mais defensável a sua posição.

No entanto, a informação que me chega é de que o proselitismo islâmico (e não só)exerce uma influência que encoraja as jovens a afrontar a laicidade.

Aliás, o perigo de vida que correm os ex-muçulmanos pela apostasia dá-nos ideia da tolerância religiosa que se respira nas mesquitas e madraças.

É perigoso confiar a liberdade religiosa às religiões e difícil garanti-la sem a neutralidade do Estado.

9 de julho de 2009 às 17:55  
Blogger Eva Gonçalves said...

Carlos Esperança:
A liberdade religiosa, não deve ser confiada às religiões. A liberdade religiosa deve ser garantida pelo Estado, precisamente pela sua neutralidade. É "neutral", um Estado que contrapôe à possível intolerância religiosa, intolerância do Estado? Ao Estado compete garantir que as mulheres possam exercer o seu direito de escolha livremente, que tenham acesso a educação, acesso a serviços de saúde, acesso a organismos de apoio, acesso a recursos judiciais, compete apoiar organismos de integração de comunidades, tendo em vista a promoção da igualdade de direitos e da dignidade da mulher, etc...

9 de julho de 2009 às 22:32  
Blogger Carlos Esperança said...

Eva Gonçalves:

«É "neutral", um Estado que contrapõe à possível intolerância religiosa, intolerância do Estado?»

Re: Perante o comunitarismo levantam-se problemas de difícil solução. A poligamia, a excisão feminina (ou a circuncisão), os casamentos combinados, a legitimidade dos castigos corporais às mulheres e outras malfeitorias habituais, são, na minha opinião, crime.

Se o Estado legislar no sentido de atribuir penas a esses crimes, é intolerância? Julgo que não.

No próprio catolicismo a idade do casamento é, segundo o código canónico, 14 anos para a mulher. Em tempos não havia limite. Lembro-lhe a D. Maria I que casou com D. Miguel aos 6 anos ou a idade com que trouxeram a mulher de D. Dinis. No Islão o limite são os seis anos e, para a consumação, 9. Foi o que o Profeta fez.

Será intolerância do estado decidir a idade legal do casamento ignorando o que os profetas disseram ou as Igrejas preconizam?

Para mim a proibição da burka, na via pública, é um direito de Estado que a própria segurança pode justificar. Mas basta-me, de facto, ser um símbolo de opressão para conceder ao Estado o direito de impor a proibição.

A abolição da escravatura foi feita com severidade. A liberdade de escravizar foi posta em causa.

A minha opinião vale o que vale mas defenderei sempre a cidadania e a civilização contra a tradição e o tribalismo.

10 de julho de 2009 às 00:16  

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