10.7.09

Os meninos que chumbam

Por Maria Filomena Mónica

UMA VEZ QUE OS MAUS ALUNOS estão na mó de baixo, deve ser o pior momento para abordar o tema dos repetentes, mas julgo útil lembrar que a violência escolar não é o único flagelo. Outro mal, o insucesso, corrói a instituição de forma dramática. Apesar das décadas sucessivas de «facilitismo», o número de chumbos é, em Portugal, elevadíssimo. No 2.º ano da escolaridade (a lei não permite chumbar no 1.º) existem cerca de 7.500 crianças que não passam de ano. Se prosseguirmos na escalada – onde, em princípio, a influência dos factores sociais se poderia atenuar – os números não são encorajadores. Em 2006/07, no ensino público e privado, a taxa de retenção e desistência no 3.º ciclo da escolaridade – o último em que o ensino é obrigatório –, foi de 18,4%; no último, o 9.º ano, um em cada cinco alunos não satisfez o mínimo exigido.

Parte da catástrofe tem origens históricas e sociais. Reconhecido o facto, o que nos deve inquietar é o que fazer com a percentagem de alunos - que não excederá os 5% - insuficientemente dotados para ultrapassar a meta. A Ministra da Educação disse, em tempos, que tinha conhecimento de que, em muitas escolas, as turmas eram informalmente organizadas com base nas classificações anteriores dos alunos, o que as tornaria homogéneas, quer do ponto de vista académico, quer social. Por experiência própria, sei que era isto que se passava no Liceu Pedro Nunes quando os meus filhos o frequentaram: os meninos com boas notas iam para a turma A, e os outros, por escala descendente do alfabeto, para as restantes, acabando os mais fracos na vizinha Machado de Castro. É isto bom ou mau?

Numa meritocracia, haverá sempre vencedores e vencidos. Mas, numa sociedade que se pretende justa, que destino deve ser oferecido aos meninos intelectualmente incapazes de terminar o percurso escolar? Pelos vistos, tão afadigados andaram os vários Ministros da Educação com a promulgação de leis idiotas que não lhes sobrou tempo para reflectir sobre a vida dos que, apesar de se esforçarem - será preciso recordar que a inteligência é distribuída de forma aleatória? - não conseguem ter as notas adequadas.

Março de 2008

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1 Comments:

Blogger Alexandra said...

Enquanto se fazem planos mirabolantes para fingir que todas as crianças podem efectivamente fazer 12 anos de escolaridade e aprender, não se estudam soluções pragmáticas para o futuro destes meninos e nivela-se todo o sistema por baixo - o nível da mediocridade - triturando gerações sucessivas de alunos portugueses que chegam ao secundário a soletrar, incapazes de pensar, sem hábitos de trabalho, odiando o menor esforço. Pobre País...

11 de julho de 2009 às 11:39  

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