14.7.09

Quente

Por João Paulo Guerra

Um jornal de ontem juntava na mesma panela, e em partes iguais, crise, gripe, incêndios e insegurança, mexia tudo bem mexido, acrescentava confrontação quanto baste e temperava com uns pozinhos de fricção institucional.

O RESULTADO ERA UMA SOPA
quente, quanto mais quente melhor, quando se trata de notícias e equiparados. E a previsão era inevitável: Portugal vai ter um Verão Quente. É o aquecimento? É o PREC? Não, é a política. Com duas eleições a abrir o Outono o que resta do Verão vai escaldar.


O que poderia arrefecer era a ida dos processos judiciais para férias. Mas Portugal vive mais de casos que de processos. Os processos agonizam ao longo de anos, de décadas, passam por legislaturas e por campanhas eleitorais e seguem, vão fundo, voltam à superfície. Os casos são de todos os dias. Os casos apimentam muito o debate político e são tantos que dão para todos os paladares. Há casos suficientes para atingir todos quantos passam, passaram ou passarão pelo poder. Em Portugal há tantos casos que dão para a troca. Queres trocar o teu BPN pelo meu Freeport? E o meu CTT pelos teus contentores?

O que é extraordinário é que tudo pode decidir-se por contingências. Isso dos partidos serem julgados em eleições pelos programas que apresentam e o crédito de seriedade que ostentam é uma melopeia para embalar meninos. Mais provável é que tudo dependa da contingência dos fogos de Verão queimarem ou não os planos de prevenção e combate às chamas, da gripe contagiar ou não o sistema de saúde, de uma asa de borboleta bater ou não na Ásia e fechar mais umas multinacionais em Portugal, da criminalidade explodir ou não em manchetes de jornais. E há os casos. E tantos casos em jogo que a disputa do poder é mesmo um caso sério.

«DE» de 14 de Julho de 2009

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