1967 - Alguém se recorda?
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Houve ainda uma outra variável que enfureceu o regime: as Associações de Estudantes mobilizaram-se rapidamente, e milhares de jovens acorreram às zonas atingidas - muitos deles (oriundos da burguesia urbana) tomando, pela primeira vez e de forma traumática, contacto com a realidade portuguesa.
Integrado nesse movimento, estive em Queijas e em Alhandra, e fiquei com a impressão de que, especialmente na primeira, muitas das vítimas devem ter morrido sem perceberem o que lhes estava a acontecer: uma enxurrada de lama, vinda de noite e inesperadamente, havia entrado pelas casas adentro (atingindo os tectos), soterrando tudo e todos.
7 Comments:
NOTA: Não abundam as fotografias dessa catástrofe - pelo menos as que tenham boa qualidade. As que aqui se publicam foram encontradas em blogues.
"Os esteiros" de José Soeiro Pereira Gomes" ilustram de forma muito realista o que foi a cheia grande.
Li o livro com 13 anos, na altura leitura obrigatória nos programas curriculares do ensino secundário.
Fiquei, na altura, chocado com a vida dos homens que nunca foram meninos.
Lamentavelmente o autor foi "riscado" do elenco de escritores lidos nas escolas públicas.
Há pessoas que mesmo mortas continuam a incomodar.
Lembro-me bem:
Mesmo uma semana depois (tendo as águas descido), o que se via era semelhante ao que estas fotos mostram: um mar de lama, a perder de vista.
Só se podia andar (mesmo dentro das casas) com botas de borracha, e de cano alto.
A "Geração de sessenta", série documental de Diana Andringa tem um episódio excelente sobre essas cheias. Mas duvido que a RTP, mesmo no seu espaço memória, a reponha.
Apenas uma pequena correcção: as trombas de agua são fenómenos que ocorrem no mar, e por estranho que possa parecer, são movimentos ascendentes.
Em 1967 este tipo de detalhes era tratado com maior rigor, digo eu que nesse ano nasci, por estranho que pareça. O rigor, não eu.
OK, obrigado.
(A expressão "tromba de água" foi aqui usada no sentido popular de "carga de água de grande quantidade e curta duração")
O número real de mortos (e respectivos nomes) nunca foi apurado ao certo pois, por volta dos 700, a Censura, furiosa, deu instruções para os jornais:
«A partir de agora, não há mais mortos!»
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