19.3.10

"Bullying" - (*)

Por Helena Matos
OS ESTRANGEIRISMOS têm a extraordinária vantagem de nos mostrar em primeiro lugar que o problema não é só nosso. Depois transformam aquelas coisas que, em português, são muito cruas e directas, como a violência e a indisciplina, num conceito mais do que num facto, uma coisa algures entre o pensamento negativo e o pensamento positivo.

Uma criança de doze anos sai da escola e atira-se ou cai ao rio. Imediatamente, começa a discussão sobre o bullying: seria agredido? Agressor? Traquinas? Triste?… E ninguém se interroga sobre como é possível que não uma mas sim várias crianças tenham saído de uma escola sem que ninguém controlasse essas saídas. (...)

Texto integral [aqui]
(*) - No seguimento do que aqui foi dito acerca de prémios não reclamados, os livros cujas capas aqui se vêem serão atribuídos aos autores dos melhores comentários que venham a ser feitos, aqui, até às 20h do próximo dia 22.

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24 Comments:

Blogger Catarina said...

“OS ESTRANGEIRISMOS têm a extraordinária vantagem de nos mostrar em primeiro lugar que o problema não é só nosso.” Concordo. Só tenho pena que não haja outro estrangeirismo que mostre que os problemas (se de problemas se tratam) são debatidos, estudados, analisados e que a partir daí se elaboram medidas de apoio, de prevenção e punitivas de acordo com a gravidade da transgressão, sem atrasos desnecessários.
Talvez por não ter lido, nem levantei a hipótese de que o aluno em questão tivesse saído da escola a meio das aulas. Evidentemente que a escola deve exercer uma maior vigilância sobre os seus alunos! A situação consegue ser pior do que imaginei.

19 de março de 2010 às 18:04  
Blogger GMaciel said...

O português estaciona de qualquer maneira e em qualquer lugar, está-se nas tintas para as mais básicas regras do código da estrada, cospe a pastilha para o chão, finge que não vê quem vem atrás e deixa que a porta se feche, passeia o cão no mais impune e manifesto desleixo e desrespeito pelo que é público e pelos outros, tem a noção errada de que apenas tem direitos, desconhece por completo o que é viver em comunidade e quais as suas responsabilidades para com a mesma, faz barulho fora de horas como se mais ninguém houvesse, martela, fura e raspa quando lhe convém sem a preocupação pelo descanso dos outros, etc, etc, etc… e queixa-se amargamente de todos os outros que o fazem também.

Leading by example é um mote imperativo em gestão, e com exemplos destes o que podemos esperar da prole de tais indivíduos? Quando a birra descomunal do rebento é sinal de personalidade, mas a do vizinho é má-criação? Quando as queixas dos professores são fruto de um “tomar de ponta” incompreensível, mas em relação ao fedelho do lado são mais do que válidas?

Neste mesmo percurso se encontra a escola como instituição. A auto-estima e a autoconfiança do indivíduo sobrepuseram-se à disciplina e responsabilização do mesmo e da comunidade e a exigência deu lugar ao facilitismo estruturado na razão directa da imagem externa, consagrada na ignorante e cega estatística.

Quando mentecaptos tomam de assalto o pilar mais importante de uma nação, a Educação, outra coisa não é de esperar a não ser a alienação total.

19 de março de 2010 às 18:05  
Blogger Catarina said...

Bravo, Gmaciel.
Gosto essencialmente (e não só) do primeiro parágrafo. Quantas vezes me quis expressar dessa forma num blogue mas não me senti à vontade. Eu acrescentaria mais umas coisinhas... mas assim em espaço aberto não seria de bom tom!

19 de março de 2010 às 18:44  
Blogger Sepúlveda said...

Em Portugal há tudo do pior.
Mas não sei que doença é que a todos afecta que impede que se perceba que todas essas coisas do primeiro parágrafo não são exclusividade lusa.
Há muito a criticar, é verdade, no comportamento de muitos portugueses. Mas não são todos nem isto é um mal nacional. O que é de criticar e lamentar (e depois tentar mudar) é a tendência para deixar andar e não haver estímulos para mudar estes comportamentos. Isto, apesar de não exclusivo, é bem mais nacional.

19 de março de 2010 às 19:45  
Blogger Catarina said...

Não, não são exclusividade lusa. Mas se fizermos uma comparação, devemos escolher os países que poderão servir de exemplo mesmo partindo do princípio que nenhum é perfeito. Mal nacional?! É só olharmos em nosso redor. Excepções? Claro que as há. Eu sou uma delas! : ) Não faço nada daquilo que a Gmaciel indica no primeiro parágrafo! Nem eu, nem os meus filhos. Os portugueses não são destituidos de qualidades, obviamente! : )

19 de março de 2010 às 21:21  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Já agora, um pequeno desafio suplementar:

Como se sabe, o 'Sorumbático' procura que, sempre que possível, os títulos dos livros tenham alguma relação com o tema do 'post'.

Então, qual a justificação para estar aqui este livro de Jorge Amado?

19 de março de 2010 às 22:20  
Blogger Catarina said...

""""Retrata os meninos como moleques atrevidos, malandros, espertos, famintos, ladrões, agressivos, falsos, soltos de língua, carentes de afetos, de instrução, de comida."""""

19 de março de 2010 às 22:25  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Catarina,

Exacto.

Dado que o "bullying" anda muito próximo da delinquência juvenil, pensei que o livro em causa (até porque é um clássico) não ficava mal...

Se não lhe desagrada um exemplar MUITO velhinho d' «Os Velhos Marinheiros», escreva para
premiosdepassatempos@iol.pt
indicando morada para o seu envio.

(Este prémio foi uma pequena surpresa, e nada tem a ver com o do passatempo propriamente dito)

19 de março de 2010 às 22:35  
Blogger Catarina said...

Com tantas aspas, apercebeu-se que tirei a informacao da net! : )

19 de março de 2010 às 22:41  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Sim, via-se pelas aspas, pelos termos (como "moleque") e pela grafia (como "afetos").
Mas, para o caso, não tem importância nenhuma.

19 de março de 2010 às 22:44  
Blogger Catarina said...

Fiz questão de exagerar nas aspas!
Obrigada.
: )

19 de março de 2010 às 22:45  
Blogger GMaciel said...

Caro Sepúlveda, é claro que a indisciplina e a falta de civismo não são um exclusivo português, mas nem eu vivo noutro país, nem pretendo comparar-me com os piores - como diz a Catarina e muito bem.

Nem todos serão como eu descrevi, mas esses são a excepção - vulgarmente conhecidos como otários - e não a regra.

Quanto a quem luta para tentar mudar... o que posso dizer? Que é uma batalha inglória pois enquanto o exemplo não vier de cima e as leis forem, na prática, implementadas, nada feito.

Eu gostaria de poder desdizer-me, mas a realidade é tramada, meu caro Sepúlveda.

Abraço

19 de março de 2010 às 22:59  
Blogger Catarina said...

Cara Gmaciel, de acordo com o priberam:
otário
s. m.
Bras. Gír. Indivíduo tolo, fácil de ser enganado.

Então eu que sou ambientalista, sigo as regras a rigor sou agora uma otária? Que desconsolo! : (

19 de março de 2010 às 23:04  
Blogger GMaciel said...

:)

Não se mortifique, Catarina, nós, os otários, somos mais do que possa pensar. O problema é que ainda não somos os suficientes para fazer a diferença.

;)

19 de março de 2010 às 23:12  
Blogger Catarina said...

Fazemos diferença, sim senhor, qualquer que seja o ambiente/sociedade em que se viva! Mas essa do “otário(a)” é que me surpreendeu. : )

19 de março de 2010 às 23:49  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Então não há mais comentários que abordem o tema da crónica da Helena Matos? Será que já foi tudo dito?

Os livros destinam-se especialmente a esses...

20 de março de 2010 às 21:32  
Blogger Catarina said...

Por mim, já disse tudo o que tinha a dizer. : ) Se continuasse, iria enfadonhamente repetir-me!

20 de março de 2010 às 21:56  
Blogger GMaciel said...

Não, é claro que não foi tudo dito.

É certo que a perda de valores e os comportamentos disruptivos de uma sociedade se reflectem na conduta das gerações mais jovens, mas neste domínio há que equacionar outros factores, como a política de Educação dos últimos governos – com predomínio no PS.

O Estatuto do Aluno e o desinvestimento na Educação, por mera questão economicista, retiraram à escola a autoridade e a capacidade de resolução dos problemas. Turmas com excesso de alunos, cortes cegos no número de funcionários, a corrupção do papel do professor – transfigurando-o em mais um burocrata ao invés de docente – e, por último mas não menos importante, a guerra aberta e pública aos professores, com a inevitável perda de respeito pelos mesmos por parte da comunidade escolar, não podiam dar outro resultado que não aquele que presenciamos dia-a-dia.

Responsabilidades? Do(s) governo(s), sim, mas em última análise de toda a comunidade, pela aparente passividade com que se aceitam medidas injustas e irresponsáveis que, atinjam quem atingirem directamente, acabam por prejudicar todos, docentes e discentes.

Cabe, pois, à comunidade escolar - leia-se, tutela, professores, auxiliares, pais, encarregados de educação e alunos – mudar o paradigma a bem da Educação, pilar primordial de uma nação.

21 de março de 2010 às 12:19  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Há algum tempo, o sociólogo Joaquim Aguiar, a propósito de uma outra situação, dizia, na TV:

«Vai ser a própria crise a acabar com a crise»

O que ele queria dizer é que este género de coisas, se forem deixadas à solta, acabarão por atingir um ponto de saturação/explosão.
Nessa altura, as medidas necessárias acabarão por ser tomadas - tarde e a más horas, claro, e mesmo contra a vontade de quem criou o problema.

É a tal história de que «Os [gestores e políticos] portugueses são muito bons a resolverem os problemas que eles próprios criam»

21 de março de 2010 às 12:54  
Blogger GMaciel said...

"«Vai ser a própria crise a acabar com a crise»"

Como tenho uma visão cínica do país, não estou muito certa que essa frase resulte exactamente como foi proferida. A meu ver e com base no histórico português de crises, é sempre com a criação de uma nova crise que se combate a crise vigente.

:(

21 de março de 2010 às 13:48  
Blogger Bartolomeu said...

Os tempos que se vivem, são de violência e agressividade, de hipocrisia e cobardia em simultâneo.
E não somente em Portugal, mas um pouco, ou um muito, talvez até excessivamente, no mundo.
A incapacidade de avaliar globalmente as questões, remete-nos para a individualização.
Paralelamente, cresce o oportunismo e a descupabilização.
Os tempos vão correndo num registo estranho, para aqueles que se acham limitados em parâmetros desadequados para a realidade actual e cuja responsabilidade, lhes exige que tomem decisões... que decidam.
Pais, educadores, funcionários, políticos, justiça, segurança e... alunos, vêem-se parte de um infernal caleidoscópio que os reflecte de uma forma deturpada... a forma como se vêem...
Solução?
Pílulas de boa-vontade... para todos; duas, antes de cada refeição!

22 de março de 2010 às 11:46  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Ver resultados em post próprio, hoje publicado:

http://sorumbatico.blogspot.com/2010/03/e-ja-que-falamos-de-premios-aqui-fica-o.html

23 de março de 2010 às 09:01  
Blogger Bartolomeu said...

Agradeço ao "sorumbático" ter-me incluído na lista dos comentadores seleccionados.
Agradeço à autora, a publicação do post.
Agradeço aos co-comentadores a partilha de ideias.
Agradeço à minha mãe, ter-me ensinado as primeiras letras.
Agradeço aos meus professores todos, pela cedência de conhecimentos que sobre mim derramaram.
Agradeço à minha família, pelo apoio e incentivo que tem dado à minha febre blogosférica.
Agradeço ao meu cachorro, por prescindir de uns passeios na preceta e uns périplos pelos pneumáticos das viaturas dos vizinhos...
Hmmm?
Ah! está na hora de fechar a matraca... ok!
;)

23 de março de 2010 às 09:43  
Blogger Catarina said...

Muitíssimo obrigada.
É sempre um prazer participar em qualquer post do Sorumbático, com ou sem prémio!

23 de março de 2010 às 11:19  

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