Talvez hoje seja um dia histórico
Por Ferreira Fernandes
É A PARTIR DE HOJE que, talvez, a minha admiração - ponham fascínio, aí, porque também é - deixa de ter o engulho maior. A Câmara de Representantes começa a votar e fará história, ou não, aprovando a reforma do seguro de saúde para os americanos.
É o mais importante avanço social que os Estados Unidos dão desde que, há mais de 40 anos, os direitos cívicos se impuseram às leis segregacionistas. Esta reforma obriga todos os americanos a subscrever um seguro, sob pena de multa, e impede as companhias de seguros de recusar as apólices sob o pretexto de antecedentes de doença do segurado. Com esta medida, 32 milhões de americanos passam a ter a assistência de saúde que, agora, não têm de todo.
Para aqueles que, como eu, olham para a América como a sua pátria de substituição (bastando para isso reconhecer o que ela foi quase sempre quando a liberdade faltou algures), esse desprezo pelos pobres no momento em que a doença os torna ainda mais vulneráveis era uma contradição insuportável. Aquilo que fez a América forte e admirável, a crença no indivíduo, era o empecilho para que os mais fracos, no seu momento mais fraco, tivessem a protecção que a sociedade lhes deveria dar.
Hoje, ou não, a América vai retirar ao seu magnífico individualismo o pior que ele tem: a indiferença.
«DN» de 21 Mar 10
É A PARTIR DE HOJE que, talvez, a minha admiração - ponham fascínio, aí, porque também é - deixa de ter o engulho maior. A Câmara de Representantes começa a votar e fará história, ou não, aprovando a reforma do seguro de saúde para os americanos.
É o mais importante avanço social que os Estados Unidos dão desde que, há mais de 40 anos, os direitos cívicos se impuseram às leis segregacionistas. Esta reforma obriga todos os americanos a subscrever um seguro, sob pena de multa, e impede as companhias de seguros de recusar as apólices sob o pretexto de antecedentes de doença do segurado. Com esta medida, 32 milhões de americanos passam a ter a assistência de saúde que, agora, não têm de todo.
Para aqueles que, como eu, olham para a América como a sua pátria de substituição (bastando para isso reconhecer o que ela foi quase sempre quando a liberdade faltou algures), esse desprezo pelos pobres no momento em que a doença os torna ainda mais vulneráveis era uma contradição insuportável. Aquilo que fez a América forte e admirável, a crença no indivíduo, era o empecilho para que os mais fracos, no seu momento mais fraco, tivessem a protecção que a sociedade lhes deveria dar.
Hoje, ou não, a América vai retirar ao seu magnífico individualismo o pior que ele tem: a indiferença.
«DN» de 21 Mar 10
Etiquetas: autor convidado, F.F
11 Comments:
Tudo bem. Mas... quem paga?
Quando há seguros de automóvel (por sinal obrigatórios), quem paga?
Como sucede com qualquer outro seguro (de vida, de invalidez, de incêndio, etc), toda a gente paga uma pequena verba, para um bolo comum. E é dessa verba que saem as importâncias para acudir a quem precisa, nas alturas críticas.
Em Portugal, esses "seguros" chamam-se Segurança Social, Serviço Nacional de Saúde.
Actualmente, nos EUA, se alguém precisar de cuidados médicos pode não os receber se não os puder pagar. É um caso raro no mundo desenvolvido ocidental.
É verdade, Carlos. Uma situação difícil de conceber numa das maiores potências mundiais. Existem talvez mais de 45milhões de americanos que não têm seguro de saúde. Milhões têm que hipotecar as suas casas para puderem fazer face às despesas inerentes aos cuidados de saúde.
O livro de Dan Brown "O Símbolo perdido" começa com a seguinte frase:O segredo é saber morrer.
Deixei-os a cogitar... «que raio pretende este palerma dizer com isto?»
Foi?
Porreiro pá!
"Actualmente, nos EUA, se alguém precisar de cuidados médicos pode não os receber se não os puder pagar."
Continuo sem saber quem é que vai pagar. Mas, é claro, devo ser muito estúpido, não é?
Sim, a primeira frase do prólogo. Fui confirmar aqui no meu livro... : ) Mas não entendi o seu comentário, Bartolomeu.
Pi-Erre,
Como poucas coisas são de graça neste mundo, quem vai pagar (se o que Obama pretende for aprovado) serão os contribuintes americanos, evidentemente.
Isso sucederá se os seus representantes entenderem que, da mesma forma que os cidadãos americanos pagam para terem Forças Armadas, polícias, tribunais, etc., devem contribuir para garantirem cuidados de saúde universais (pelo menos os mínimos, suponho).
Estimada Amiga, Catarina.
Se quisesse reduzir a citação que coloquei, a um mero eclectismo, diria somente que por analogia, a frase do livro, uma "verdade do código" Maçon, ou Maçónico que antecede a cena de iniciação, se passa na América, dentro de um Templo que é uma réplica ao templo do Rei Mausolo, em Washington, muito perto da Casa Branca.
Mas, como podemos (ambos) imaginar, seria pouco, relativamente ao sentido deste post. Então o seu significado pretende estender-se a uma outra esfera, à da metafísica, cuja, se encontra implícita no significado da frase que citei no início; "O segredo é saber morrer."
Obama prometeu ao povo Americano que iría concentrar as suas energias e a sua atenção, lutando pelos mais defavorecidos da sociedade, lutando pelos princípios da constitituição, garantindo a todos os Americanos a igualdade de direitos. And... he can.
O segredo é saber morrer, se for necessário morrer, morra-se por uma causa humana, morra-se com dignidade, morra-se lutando por uma causa justa!
;)
Uff! Compreendi, até que enfim! Obrigada. Eu votaria a favor deste plano! 8 milhões de crianças que não têm seguro! Conhecer-se-ão os resultados de madrugada, provavelmente.
O Congresso votou maioritariamente a favor. Vitória de Obama! Agora a ver vamos como é que a coisa vai correr, com as seguradoras a torcerem o nariz e os conservadores a torcerem a cabeça dos seus constituintes.
Tenho grande dificuldade em compreender como que é a maior potência do mundo tem um sistema, aliás, tinha um sistema de saúde tão mediocre. Desses 32 ou 35 milhões de pessoas que não tinham seguro, 8 milhões são crianças. Não creio que Obama vá ser reeleito, mas se for estou convicta que fará “grandes coisas” pelos Estados Unidos.
Enviar um comentário
<< Home