Um Professor suicidou-se - (*)
Por Deana Barroqueiro
SUICIDOU-SE um professor.
A anterior equipa do Ministério da Educação, se ainda estivesse em funções, diria certamente que ele era um dos muitos professores sem perfil para a complexa missão de ensinar crianças ou adolescentes, dos docentes que nunca poderiam progredir na carreira, dos que deveriam ser avaliados por quem de direito o poderia fazer com rigor, por serem os mais directamente interessados – os seus alunos e os respectivos Pais ou Encarregados de Educação.
Com a boa prática de estes últimos começarem a interessar-se muito mais pelo trabalho dos filhos, indo com maior frequência à escola, sobretudo para pedir satisfações ou até administrar uns tabefes ao docente que não souber levar o seu educando, mesmo contra vontade da criança ou do adolescente, a frequentar as suas aulas e, coisa mais rara e improvável, a estudar. (...)
SUICIDOU-SE um professor.
A anterior equipa do Ministério da Educação, se ainda estivesse em funções, diria certamente que ele era um dos muitos professores sem perfil para a complexa missão de ensinar crianças ou adolescentes, dos docentes que nunca poderiam progredir na carreira, dos que deveriam ser avaliados por quem de direito o poderia fazer com rigor, por serem os mais directamente interessados – os seus alunos e os respectivos Pais ou Encarregados de Educação.
Com a boa prática de estes últimos começarem a interessar-se muito mais pelo trabalho dos filhos, indo com maior frequência à escola, sobretudo para pedir satisfações ou até administrar uns tabefes ao docente que não souber levar o seu educando, mesmo contra vontade da criança ou do adolescente, a frequentar as suas aulas e, coisa mais rara e improvável, a estudar. (...)
Texto integral [aqui]
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(*) - Aos autores dos dois melhores comentários aqui afixados até às 20h do próximo dia 16, terça-feira, serão atribuídos: um exemplar de Capitães da Areia (de Jorge Amado) e um de Entre o Pavor e a Esperança (de Loys Masson).
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Actualização (17 Mar 10): ver classificação [aqui].Etiquetas: autor convidado, db
Afixado por: Carlos Medina Ribeiro às 20:22
18 Comments:
Colocaram à nova Ministra da Educação uma questão velha:
Porque é que os "encarregados de educação" não são responsabilizados pelos actos dos filhos?
Resposta:
«Isso iria introduzir mais um elemento de conflitualidade».
Pois...
Cai leve, levemente,...
A escola desmoronada
por teorias tolerantes
fica assaz arruinada
e com mofinas imperantes.
Desta cultura edificada
entre paredes magnificentes
brota gentalha deseducada
fruto de conceitos complacentes.
É uma marca exemplar
do regime estragado
que muito faz por revelar
um E(e)stado fustigado.
Dá vontade de gritar
de forma bem audível,
vincando o protestar
de asserção credível!
Enquanto professor, devo dizer que lamento o acto de desespero do professor vítima de bullying continuado, acto esse que é consequência directa da desresponsabilização institucional do Ministério da Educação (que insiste em ignorar ou secundarizar o fenómeno da indisciplina escolar), da postura acefálica das direcções de escola (que evitam entrar em conflito com alunos indisciplinados e seus pais), e da estupidificação da sociedade portuguesa (que insiste na inimputabilidade do jovem em idade escolar).
Filipe J. Sousa
Pedido ao Sorumbático e a Carlos Medina Ribeiro:
Sou professor. Choca-me que se façam passatempos sobre a miséria que alastra criminosamente no sistema de ensino do meu país.
Não podiam trocar o passatempo por uma abertura de espaço a quem se quisesse pronunciar seriamente sobre o assunto, publicando, por exemplo, sob a forma de post, o texto que achassem melhor?
Por mim, não consigo usar a dor, como motivo para passatempo.
Cordialmente: José Batista da Ascenção.
As salas de aulas podem ser aterrorizantes.
Fechado dentro de quatro paredes, um professor, tem muitas vezes de conviver com “meninos” que fazem roubos violentos, andam armados, sentem prazer no medo que provocam e no respeito/medo que lhes demonstram ou são obrigados a demonstrar.
Lamento a morte deste professor e aponto o dedo à inépcia do sistema educativo.
O Bullying manifesta-se, pelas evidências e pelos estudos, também contra os professores da parte de alunos e de Encarregados de Educação... Importa fazer corresponsabilizar todas as partes intervenientes no sistema educativo com base no bom senso e no empenho do empiricamente exequível para que não se verifique que cada agente sacuda a "água do seu capote"...
Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt
Passatempo com prémio? Sobre uma morte trágica?
Acho muito infeliz e inesperado neste blog que até aqui tinha acompanhado com gosto.
Para José Ribas
Sei que a ideia do autor do Sorumbático era exactamente a de abrir esse diálogo e de suscitar discussão, porque o que escrevi foi fruto da minha indignação e não por brincadeira, embora recorra à ironia, que é bem amarga pçara nã soar a exploração de sentimentos.
Julgo que a ideia da oferta do livro surgiu a Medina Ribeiro, pelo próprio título da obra, que julgo estar relacionada com o tema do post do meu blogue.
Também me chocou, quando li, a ligação da palavra Passatempo ao título do meu texto, em que eu quis pôr em evidência o drama de um professor frágil e fragilizado, levado ao desespero pelas condições em que trabalhava.
Já pedi ao autor do Sorumbático para modificar a rubrica, por ser infeliz e porque nenhum de nós quis brincar com este assunto.
A escrita dos meus livros quase não me deixa tempo para escrever outras coisas. Faço-o poucas vezes, só quando me indigno com determinadas situações.
Escrevi cartas abertas à anterior ministra, mostrando essa mesma indignação e o caminho perigoso aonde levaria a sua política de aviltamento da classe e de desvalorização da indisciplina nas escolas.
Assisti, na minha longa vida de professora, a casos de destruição psicológica de colegas, pelos seus alunos, quando era quase impossível fazer-se um processo disciplinar ao aluno. A burocracia, o tempo, o processo fazia lembrar um julgamento no Supremo e o desgaste do professor era tremendo, pois acabava por ser ele próprio julgado e culpabilizado.
Como sempre tive "pulso" e, apesar de ter 1,60 m. de altura e pesar 46quilos, aosa 55 anos de idade ainda enfrentei e dominei turmas com hooligans, que me respeitavam. Porém, era uma luta constante, diária, desgastante... e pouco conseguia ensinar aos raros alunos interessados.
A ideia era mesmo ouvir as pessoas sobre o que se passa nas escolas e nas comunidades que interagem com ela, o que pensam sobre a escola, pois temos a nova Ministra, Isabel Alçada, conhece bem o terreno e talvez faça algo de bom, se houver consenso e vontade política.
Concordo com o comentarista José Batista.
Mas devo dizer que por aquilo que conheço deste blog e do seu autor, a intenção não foi aquela que o título possa indicar. Suponho que foi uma daquelas “situações infelizes” a que todos nós estamos sujeitos quer de uma forma ou de outra.
Este comentário foi removido pelo autor.
A:
Deana Barroqueiro
e Catarina
Comovi-me com os Vossos comentários.
Também eu sei que Carlos Medina Ribeiro (que não tenho o privilégio de conhecer pessoalmente)não teve qualquer intenção menos nobre ao abrir este "passatempo", ele que é um ás em propor passatempos pertinentes, curiosos e interessantes.
Obrigado a ambas por partilharem aquilo que sinto.
Reconhecendo que o termo "passatempo" é infeliz, a palavra foi retirada do título.
No entanto, os leitores habituais deste blogue sabem que se tem utilizado esse sub-título sempre que se pretende chamar a atenção para o facto de haver prémios para os melhores comentários - independentemente do tema em discussão.
Esses prémios são sempre livros, cujos títulos são, tanto quanto possível, relacionados com o tema em discussão - o que nem sempre é fácil de conseguir (obrigando, por vezes, a recorrer a exemplares já manuseados, como é o caso de hoje).
Não confundamos o Género Humano com o Manuel Germano!!!
Quanto ao passatempo e atendendo à elevação com que se debatem os assuntos neste blog, não passa pela cabeça de ninguém bem intencionado que se estivesse a “usar a dor” para fins menos próprios.
Essa leitura não me parece ajustada ao caso e não acho que ninguém se tenha de retratar ou tivesse que alterar o quer que seja, porque, é óbvio para todos os seguidores deste espaço que a intenção do Sr. Medina e dos comentadores foi precisamente a de assinalar este triste episódio de boa fé.
Atenção:
Dado que no blogue de Deana Barroqueiro há também muitos e bons comentários, os prémios a atribuir terão também em conta essas contribuições.
Vivemos tempos muito difíceis e, igualmente, complexos. Para (quase) todos. Como outras gerações anteriores já carregaram as respectivas cruzes… É nesse contexto que surgem os desafios e as necessárias acções fundamentais para corresponder, da melhor forma possível. O infinitivo do verbo “corresponder” é colocado no sentido de incluir a responsabilização de respostas a toda a sociedade.
Esta problemática começa, desde logo, no seio familiar. Sabendo que as contingências da vida moderna são o que são (os pais, muitas vezes, mais ausentes por razões profissionais; o aumento de sentimentos e comportamentos individualistas, em muitos casos, devido à dependência face à evolução tecnológica; e, para destacar só mais um aspecto, o culto do facilitismo e do mediatismo na prossecução de etapas que requerem outros tempos), o padrão social das famílias parece ter ficado para trás. Ter perdido o comboio… E, para agravar ainda mais a questão, muitos pais desresponsabilizam-se, pura e simplesmente, ou sacodem a água do capote com leviana ligeireza. Assim, o papel nuclear das famílias no processo educativo parece desfasado das exigências de um mundo global aliciante, mas igualmente perigoso.
Exigências relacionadas com a velocidade de circulação da informação e, consequente, tempo necessário para a sua digestão, ficando os jovens entregues à sua sorte. E sabemos que muita dessa informação acrescenta pouco, ou nenhum valor, ao crescimento intelectual e de percepção da realidade. Realidade que lhes é apresentada de forma, frequentemente, demasiado ficcional e, mesmo, com elevada carga de violência.
A escola, por sua vez, em muito devido a um enquadramento político demasiado rígido, tornou-se num centro burocrático, por excelência, de um Estado cada vez mais burocrático. O que parece e é um paradoxo, tendo em conta a flexibilidade e comodidade das novas tecnologias de informação no processo de agilização de procedimentos. Este paradoxo cria, inexoravelmente, sentimentos confusos nos diversos actores, a começar pelos professores. E na sua actividade professoral que vai muito mais além da mera exposição de conteúdos. Em relação a estes e à rigidez burocrática, relevam-se aspectos associados ao tempo necessário de preparação das aulas que, em muitos casos, é ocupado pelo preenchimento de mil e um papéis não directamente relacionados com essa preparação. Esta situação origina um aumento da pressão na gestão do tempo disponível para as actividades pedagógicas verdadeiramente relevantes.
Em termos mais abrangentes, ou seja, alargando o raio de análise para a sociedade, assiste-se a uma crise de valores que afecta negativamente o desenvolvimento educacional. Em muitos casos, existe um facilitismo exagerado na obtenção das coisas (sobretudo, de “elevado peso” material), que não premeia a capacidade de sacrifício e de empenhamento. No fundo, a responsabilidade e o mérito. Neste sentido, é, por muitos, referido como melhor exemplo: alguns concursos televisivos, com o Big Brother nos lugares cimeiros. No caso escolar, por exemplo, tem havido uma delapidação dos poderes dos professores que leva a que os alunos não sintam tanta necessidade de se esforçarem para atingir as suas metas. Situação que se reflecte no processo de avaliação em que é muito difícil e burocrático reprovar um aluno. Deste modo, parte do papel que compete ao professor é-lhe, simplesmente, sonegado.
Em conclusão, haverá muitos outros factores importantes, no entanto, parece-me que os que foram referidos têm a sua “quota-parte” de responsabilidade. O prazer de ensinar e de contribuir para o crescimento/desenvolvimento educativo de jovens, e não só, encontra-se miseravelmente condicionado. Sendo a educação um dos pilares do desenvolvimento humano, com tantas e tantas páginas, mais ou menos virtuais, dedicadas ao assunto, todo o contexto educativo actual parece estar, em grande parte, descontextualizado, espelhando uma sociedade à deriva.
Agradeço a todos os que comentaram o meu texto com palavras e reflexões tão pertinentes e também vos fico grata por esse quase diálogo que se estabeleceu entre os dois blogues. Queria fazer partilhar os meus amigos da angústia dos meus colegas professores, tal como me solidarizo com as injustiças cometidas contra outras profissões ou indivíduos.
Para concluir: Peço desculpa pelas gralhas (várias, como "pçara nã" em vez de "para não" ) que aparecem no meu anterior comentário, mas quando estou demasiadas horas a escrever no computador (nunca menos de 16), com as minhas graves deficiências de visão, a essa hora da madrugada, já nem a minha obsessiva mania das correcção ortográfica me salva.
Nós compreendemos. Acontece-nos a todos! : ) Boa noite.
A classificação, que abrangeu os comentários feitos até às 20h de ontem (e em ambos os blogues), já está afixada [aqui].
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