5.4.10

Envelhecer

Por Maria Filomena Mónica

COMECEI A ENVELHECER aos 66 anos e cinco meses, quando me transformei numa espécie de Lego que se desmorona. Já sentira ameaças, mas nunca, como no último Verão, a coisa se tornara tão clara. Na antevéspera de ir para Inglaterra, ao ingerir, de manhã, um bocado de cereal, parti um dente. Embora o facto revelasse decrepitude, estava tão contente de me ir embora que me dirigi ao consultório sem apreensão. Ao entrar, caí.

Uma vez em casa, notei que o pé estava demasiado inchado para poder abstrair do facto. Nas Urgências, a médica diagnosticou um estiramento de tendões, após o que colocou uma meia elástica, me entregou duas canadianas e confirmou que podia voar.(...)
Texto integral [aqui]

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3 Comments:

Blogger A. João Soares said...

Envelhecer e ver partir os amigos pode ser motivo para agradecer às divindades continuar por cá ou pode ser o receio de estar para breve a partida.
Em Agosto de 1959 parti para a Guiné com mais sete oficiais. Neste momento só estão vivos dois, foi para isso chamada a atenção de um conviva de almoço comemorativo com mais de uma dezena que lá se encontraram entre esse ano e 1961.
E depois de estar consciente disso fica a expectativa de qual de nós dois irá primeiro!
Mas esse não é um pensamento positivo e há que o afastar.

Cumprimentos
João

5 de abril de 2010 às 21:41  
Blogger José Batista said...

Aprecio este modo de escrever, tão inclemente na análise da realidade. Quem também foi muito honesto acerca da (sua)velhice foi Jorge Amado.
E julgo necessário que as pessoas da meia-idade pensem seriamente na velhice. Mesmo que (lhes) doa (muito)
Até porque a juventude não está a ser educada nem sensibilizada para lidar com uma sociedade de velhos, dentro de poucos anos. Por isso mesmo a eutanásia vai ser provavelmente reclamada por muita gente nova que precisa livrar-se de embaraços... E essa perspectiva causa-me enormes receios, confesso.
Agora, quanto a MFM, eu já escrevi algures que lhe devíamos "exigir" que dirigisse o Ministério da Educação durante uma legislatura. Mesmo no estado de saúde em que diz encontrar-se, ainda metia os anteriores ocupantes do cargo dos últimos 30 anos no bolso. À légua, como se dizia na minha aldeia. Eu sei que isso só poderia ser um sacrifício da sua parte. Mas há muito que dei comigo a desejá-lo... E não é por lhe querer mal, acreditem.

6 de abril de 2010 às 00:10  
Blogger Bartolomeu said...

Cá na minha, o termo envelhecer, não colhe substância. É vago, abstracto, avalia uma qualidade na pessoa, não medível (a qualidade, não a pessoa).
E não pensem que digo isto de "barriga cheia". Não pensem que sou um "chavalinho" (gíria que desígna um jovem). Estarão vocências a pensar neste momento "olha, já se está a contradizer. Acabou de afirmar que velhice é um termo vago, e agora diz que não é jovem".
Bom, refería-me à escala, à bitola, à regua de tempo que determina a estatística da existência... temporal.
Sem pretender entrar pela metafísica adentro, assim como quem entra num autocarro que está prestes a zarpar, não resisto a colocar uma dosezita de espiritual na confecção do "prato".
Não nos podemos esquecer que este "percurso" é cumprido de dois modos: o consciente e o inconsciente. Provávelmente, em breve, com o desenvolvimento da noética, essa ciência que estuda a parte do cérebro que ainda não sabemos utilizar, todo o nosso conhecimento e consciência de nós mesmos irá conhecer novos horizontes. Provávelmente, o nascimento anunciado... profetizado de uma nova ordem universal, social,esteja para breve e, o conceito de velhice se altere radicalmente.
Talvez... talvez...

6 de abril de 2010 às 08:26  

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