19.5.10

A senhora do pai

Por Alice Vieira

A PRINCÍPIO nem ligou. Sempre que voltava do pai ele não se calava, naquele seu linguajar de bebé, a querer meter o mundo todo nas poucas palavras que o seu vocabulário permitia. Ela sorria, enquanto ia desfazendo a mala de fim de semana, com o Rato Mickey de enormes orelhas estampado bem a meio.
Foi a insistência dele que lhe chamou a atenção. E foi então que, nitidamente, percebeu o que ele dizia: “a senhora do pai.”
Sentou-o ao colo, fez-lhe uma festa no cabelo, tudo com muita calma, e foi murmurando:

- A senhora do pai?
Ele acenou com a cabeça.

- O pai tem uma senhora?
Ele acenou com a cabeça.
(...)

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