Carpideiras
Por João Paulo Guerra
QUANDO morre alguém conhecido ergue-se neste país a melopeia do Coro das Carpideiras. E assim, às naturais, justas e amplas manifestações de pesar por parte de muita e boa gente, juntam-se as carpideiras para as quais um morto com qualidade dá sempre jeito para que se ponham em bicos dos pés.
Não há morto que não passe a ser, pelo facto de ter morrido, uma excelente pessoa de raro carácter e um profissional de excepção, enquanto foi vivo. E esta modalidade de panegírico, entoada pelas mais suspeitas silhuetas, tem diversos objectivos. O primeiro é o de atestar que o fulano está morto e não mais atormentará a memória e a consciência - a havê-la - dos que cá ficam bem mais sossegados. A segunda é colar os louvaminheiros às qualidades, ao prestígio e ao auditório do falecido.
E a terceira é exibir a condescendência do autor da louvaminha, caso tenha feito a vida negra ao defunto. E é assim que o sujeito dos elogios fúnebres não é em geral o morto, mas o vivo que com ele terá convivido.
Claro que isto vem a propósito de comentários proferidos por ocasião da morte prematura do jornalista e divulgador cultural Carlos Pinto Coelho, justamente homenageado por muitos que o apreciaram em vida e lamentaram na morte, como também bajulado por vários dos que o tramaram enquanto vivo, ou simplesmente disfarçaram porque é sempre mais cómodo não tomar posição ou nem sequer tomar conhecimento.
Lembro-me que Maria Lamas dizia que desconfiava das homenagens. E que Fernando Lopes Graça dizia, peremptório, "não vou a festas". Eles lá sabiam. Pois se até o turvo ditador de Santa Comba elogiou mestre Aquilino Ribeiro, na hora da sua morte, depois de em vida o ter atirado aos juízes ou lançado directamente para a cadeia!
«DE» de 20 Dez 10
QUANDO morre alguém conhecido ergue-se neste país a melopeia do Coro das Carpideiras. E assim, às naturais, justas e amplas manifestações de pesar por parte de muita e boa gente, juntam-se as carpideiras para as quais um morto com qualidade dá sempre jeito para que se ponham em bicos dos pés.
Não há morto que não passe a ser, pelo facto de ter morrido, uma excelente pessoa de raro carácter e um profissional de excepção, enquanto foi vivo. E esta modalidade de panegírico, entoada pelas mais suspeitas silhuetas, tem diversos objectivos. O primeiro é o de atestar que o fulano está morto e não mais atormentará a memória e a consciência - a havê-la - dos que cá ficam bem mais sossegados. A segunda é colar os louvaminheiros às qualidades, ao prestígio e ao auditório do falecido.
E a terceira é exibir a condescendência do autor da louvaminha, caso tenha feito a vida negra ao defunto. E é assim que o sujeito dos elogios fúnebres não é em geral o morto, mas o vivo que com ele terá convivido.
Claro que isto vem a propósito de comentários proferidos por ocasião da morte prematura do jornalista e divulgador cultural Carlos Pinto Coelho, justamente homenageado por muitos que o apreciaram em vida e lamentaram na morte, como também bajulado por vários dos que o tramaram enquanto vivo, ou simplesmente disfarçaram porque é sempre mais cómodo não tomar posição ou nem sequer tomar conhecimento.
Lembro-me que Maria Lamas dizia que desconfiava das homenagens. E que Fernando Lopes Graça dizia, peremptório, "não vou a festas". Eles lá sabiam. Pois se até o turvo ditador de Santa Comba elogiou mestre Aquilino Ribeiro, na hora da sua morte, depois de em vida o ter atirado aos juízes ou lançado directamente para a cadeia!
«DE» de 20 Dez 10
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1 Comments:
Prematura, é uma ilusão óptica causada pela propaganda de que as pessoas vivem mais tempo.
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