Um pedacito de bolo-rei no bico
Por Ferreira Fernandes
JÁ O DISSE, presidenciais a sério em Portugal só no meio das décadas, quando o anterior inquilino é obrigado a largar o Palácio de Belém. Quando calha em princípio de década, como agora, quem está e pode prolongar o contrato de renda por mais cinco anos, fica porque a concorrência é fraca. E a concorrência é fraca porque sabe que ele fica. O mandato é sempre de dez anos, paga-se é em duas prestações. Por isso Soares esperou o fim dos dez anos de Eanes, todos esperaram o fim dos dez de Soares, Cavaco só ousou repetir no fim das duas doses de Sampaio, e a meio de Cavaco temos esta campanha sensaborona por falta de comparência de oposição. Estamos, pois, em pleno intervalo do mesmo filme. Espaireçamos, como se faz nos intervalos. Gostei, também já o disse, da frase de Fernando Nobre: "Já viu uma criança correr atrás de uma galinha para tirar o pedacito de pão que ela levava no bico?", lançou ele a um adversário. É uma bela tirada. Mas, lá está, Nobre é candidato de eleição-intervalo, um amador, e não soube, como devia, repetir a tirada com Cavaco: "Já viu uma criança correr atrás de uma galinha para tirar o pedacito de bolo-rei que ela levava no bico?" Um conselho, porém: não a repita com Alegre. Arriscava-se a ouvir este gabar- -se de ter uma solução para a parábola: ele, o poeta-caçador, dava um tiro na galinha e resolvia o assunto e a fome de todos.
«DN» de 19 Dez 10
JÁ O DISSE, presidenciais a sério em Portugal só no meio das décadas, quando o anterior inquilino é obrigado a largar o Palácio de Belém. Quando calha em princípio de década, como agora, quem está e pode prolongar o contrato de renda por mais cinco anos, fica porque a concorrência é fraca. E a concorrência é fraca porque sabe que ele fica. O mandato é sempre de dez anos, paga-se é em duas prestações. Por isso Soares esperou o fim dos dez anos de Eanes, todos esperaram o fim dos dez de Soares, Cavaco só ousou repetir no fim das duas doses de Sampaio, e a meio de Cavaco temos esta campanha sensaborona por falta de comparência de oposição. Estamos, pois, em pleno intervalo do mesmo filme. Espaireçamos, como se faz nos intervalos. Gostei, também já o disse, da frase de Fernando Nobre: "Já viu uma criança correr atrás de uma galinha para tirar o pedacito de pão que ela levava no bico?", lançou ele a um adversário. É uma bela tirada. Mas, lá está, Nobre é candidato de eleição-intervalo, um amador, e não soube, como devia, repetir a tirada com Cavaco: "Já viu uma criança correr atrás de uma galinha para tirar o pedacito de bolo-rei que ela levava no bico?" Um conselho, porém: não a repita com Alegre. Arriscava-se a ouvir este gabar- -se de ter uma solução para a parábola: ele, o poeta-caçador, dava um tiro na galinha e resolvia o assunto e a fome de todos.
«DN» de 19 Dez 10
Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Texto muito certeiro. Realmente, não dá para levar estas eleições a sério. Cavaco é Cavaco, e dali não se tira mais nada. Temo-lo porque o merecemos. E os outros andam aos papéis... O mais extraordinário é de facto Alegre. Com aquela sua temerária coragem já ouvi chamar-lhe "arrebenta broas" e, ou me engano, ou vai dar com os burrinhos na água. Pergunto-me (sem querer saber a resposta) que sentirá ele perante a ideia de que nem Sócrates nem Soares votem na sua candidatura.
É por esta falta de autenticidade que a política se encontra na lama. Como pode um homem sensível prestar-se a tamanha "paspalhada"?
Já sobre Nobre, um homem bom, escreve hoje um articulista da nossa praça que melhor faria em regressar quanto antes à AMI... Infelizmente, parece-me que tem razão.
Enviar um comentário
<< Home