16.12.10

Acontece

Por A. M. Galopim de Carvalho

ACONTECE
a todos. Uns hoje, outros amanhã. Sempre assim foi e assim será. Foi agora a tua vez. Amanhã será a dos que te viram partir. De todos, sem excepção. Dos bons como tu, que fazem falta à sociedade e que nós desejaríamos ter por cá muito mais tempo, e dos outros, incluindo os que não prestam, como aqueles que, estupidamente, te cilindraram na RTP, privando-nos do único e, até hoje, o melhor programa cultural televisivo em Portugal, e aqueles que, afastada a rapaziada que sancionou esse atentado à inteligência, não quiseram ou não souberam ir buscar-te e repor-te no lugar de onde nunca devias ter saído.

O nosso relacionamento, não tendo sido tão intenso e próximo como os que mantiveste com um grande número de amigos e profissionais do sector que foi o teu, pautou-se pela simpatia que o tempo converteu em amizade. Tu e o teu Acontece, atentos a tudo o que de sabor cultural se ia produzindo neste nosso torrão, foram dando visibilidade aos livros que ousei escrever. E foste tu que, há pouco mais de um ano, em Évora, apresentaste o último que dei à estampa. E com que entusiasmo e brilhantismo!

Vais deixar saborosas saudades em muitos dos teus concidadãos e eu sou um deles. É um privilégio póstumo de que nem todas as almas se podem gabar. Mas com a tua, acontece.

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