16.12.10

Quando o governo matou o «Acontece»

A AFIRMAÇÃO de Morais Sarmento - de que sairia mais barato pagar uma viagem à volta do Mundo aos espectadores do Acontece do que manter o programa vivo - foi um mimo em matéria de "falta-de-chá"; e a primeira coisa quem vem ao espírito é que não se deveria gastar tempo a discutir patacoadas de tal jaez. Mas houve quem se desse ao trabalho de contra-argumentar, multiplicando o número de espectadores do programa pelo preço de uma viagem dessas.

Palpita-me, no entanto, que foi tempo perdido pois, se calhar, o verdadeiro problema está na definição de "volta-ao-mundo": quem se abalançar a fazer uma deverá atravessar os meridianos todos (de preferência à latitude do Equador) percorrendo, pelo menos, os 40076,5 km que ele tem de perímetro.

Ora, alguns pensam que basta cruzar os meridianos independentemente da latitude a que o façam. Se isso fosse verdade, podia considerar-se que alguém dava a volta-ao-mundo (mesmo de trotineta, de patins ou ao pé-coxinho) contornando simplesmente um urso polar que estivesse a hibernar à latitude de 90º. Deve ter sido para uma "volta" dessas que o senhor ministro pediu orçamento e, se assim foi, está tudo explicado e com clareza "meridiana".

Quanto ao urso: de facto, não era necessário para esta explicação, mas acabou por entrar aqui por associação de ideias.
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Texto de CMR, publicado no Expresso em 1 Mar 03 (na secção Carta Branca, com o título «Vai uma voltinha?»), e no DN em 23 de Fev 03, com pequenas diferenças.

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3 Comments:

Blogger Mg said...

Mais cedo que o esperado, foi-se a criação; agora, chega a hora do criador.
É a lei da vida: uma das poucas que não podemos contornar...

Paz à sua alma.

16 de dezembro de 2010 às 15:54  
Blogger Greetube - People and culture said...

O Carlos fez, enquanto nos acompanhou, muitas viagens ao mundo, ao mundo encantado da poesia, como escreve Luan Ribeiro. E nesse mundo não cabem opostos dispostos a embarcar os outros.
Beneficia, agora, o Criador e ele vai-lhe ser muito útil para nosso mal.

16 de dezembro de 2010 às 16:37  
Blogger José Batista said...

Ora, CMR, esse senhor ministro tinha alguma dificuldade de expressão... Não sei se se lembra.
Não sei se tinha outras dificuldades. Palpita-me que tinha pelo menos mais uma: a de perceber (e respeitar) os que gostavam do programa "Acontece" e admiravam o seu autor.
Aconteceu-nos: o ministro, então, e a morte de CPC, agora.

16 de dezembro de 2010 às 18:20  

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