10.12.10

Llosa, Camus e o nosso D. Pedro IV

Por Ferreira Fernandes

HOJE, Vargas Llosa vai receber o Nobel, mas já fez o discurso de aceitação. Foi comovedor - pôs toda a gente a chorar. A declaração de amor por Patricia, a mulher, foi a razão para a comoção. Mas deixem-me falar de outro assunto do discurso, uma aparente infidelidade: Llosa é homem de duas pátrias. Peruano, tem passaporte espanhol. Disse: "Espanha e Peru são as duas faces da mesma moeda, e não só na minha pequena pessoa, também em realidades essenciais como a história, a língua e a cultura." Amo os homens que juntam o que há para juntar.
A entrega do Nobel de Literatura já teve um célebre mal-entendido sobre o assunto de duas pátrias. Em 1957, Albert Camus proferiu uma frase que havia de persegui-lo: "Entre a justiça e a minha mãe, escolho a minha mãe." Pied-noir, branco da Argélia, democrata e anticolonialista, a frase era uma crítica à forma como a FNLA achava justo combater pela independência argelina. Camus era tão argelino como um camponês berbere, a sua frase não era sobre uma escolha sua mas sobre a escolha dos que, pondo bombas nos autocarros de Argel, excluíam a mãe dele da sua terra.
Os portugueses deveriam saber o que é a ambivalência pátria. O seu rei D. Pedro IV, em 1831, deixou uma carta ao seu filho, de cinco anos, e saiu lavado em lágrimas. Dizia a carta: "Não sabes a dor que é deixar a pátria..." D. Pedro deixava o Brasil e partia para combater por Portugal.
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«DN» de 10 Dez 10

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1 Comments:

Blogger Unknown said...

Caríssimo dos Ferreiras

Já to disse, mas repito, tripito, quadripito, enipito: sou um teu fã incondicional. Acho-te ótimo (aos bocadinhos vou tentando entrar na nova grafia de acordo com o Acordo).

Depois disto, só me resta acrescentar: quando eu for grande, quero ser Ferreira... Fernandes

Abração

11 de dezembro de 2010 às 10:41  

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