26.12.10

Passaporte espanhol é agente português?

Por Ferreira Fernandes

CRISTÓVÃO Colombo será genovês ou alentejano - acasos de nascimento, enfim - mas o certo é que aprendeu a lavrar os oceanos em Lisboa e Porto Santo e isso, saber navegar, vale mais do que mil acasos. Essa medalhazita ninguém nos tira. Ontem, o jornal espanhol El Mundo lutava pela sua medalhazita: quer que se recolham todos os passaportes espanhóis por um crime de lesa-pátria! E esse crime está no reverso do documento que milhares de espanhóis, todos os dias, mostram pelo mundo: desenhado, o mapa da primeira viagem da descoberta da América (1492). O mapa assinala a partida, do Sul de Espanha, a volta pelas ilhas caribenhas e o retorno, aportando algures no meio de Portugal. Isto é, segundo o passaporte espanhol, a viagem da descoberta da América acabou em Portugal. Ora, as coisas passaram-se assim: de Los Palos saíram três naus, Santa Maria (navio almirante), Niña e Pinta, que descobriram terras americanas; ao regressar, a nau Santa Maria afundou, Cristóvão Colombo passou para a Niña, que chegou a Lisboa a 4 de Março de 1493. Mas, na verdade, a Pinta chegara três dias antes a Baiona, na Galiza... São os de Baiona que se mostram mais indignados com o mapa do passaporte. Podíamos argumentar que o que conta é a chegada do navio com o almirante (a Niña). Mas podíamos deixá-los com a taça, e sorrir por, por esta vez, serem outros a correr para a medalhazita.
«DN» de 26 Dez 10

Etiquetas: ,