22.12.10

Mãos largas

Por João Paulo Guerra

O ESTADO, pessoa colectiva de direito público, tem umas enormes e largas mãos com que gere os dinheiros públicos e, simultaneamente, caça níqueis nos bolsos privados.

E ao mesmo tempo que as manápulas do Estado vasculham cada cêntimo que os cidadãos auferem ou movimentam, as largas mãos do Estado desfazem-se em benesses para certas freguesias. E então o país ficou agora a saber - através de uma queixa da eurodeputada Ana Gomes à Comissão Europeia - que o contrato para aquisição de uns submarinos pelo Estado português contém uma inimaginável cláusula segundo a qual o preço dos submergíveis se actualiza diariamente. Quer dizer: estamos aqui a escrever ou a ler o jornal, havemos de ir almoçar, ao fim do dia regressamos a casa, convivemos com amigos e família, por fim vamos dormir e o taxímetro do preço dos submarinos não parou nem pára. E foi assim que em nove meses Portugal terá pago um acréscimo de 64 milhões de euros ao fornecedor alemão de submarinos.

Este mesmo Estado, magnânimo de uma banda e tão pouco da outra (como diria o compositor Fausto Bordalo Dias), o Estado que já injectou quatro mil e quinhentos milhões no BPN, prepara-se para injectar mais 500 milhões. E como não há contabilidade que resista a tão largas mãos como são as do Estado, vá de caçar receitas, baixando salários e pensões no país mais mal pago da Europa, aumentando impostos no país com mais aumento de carga fiscal entre os 27 da UE, exterminando prestações sociais, permitindo aumentos de preços acima da inflação no país que está vinte por cento abaixo da média europeia em poder de compra, subvertendo a Constituição da República.

Em Portugal, há portugueses pobres a darem para as caixinhas de esmolas do BPN e dos fornecedores de submarinos.
«DE» de 22 Dez 10

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3 Comments:

Blogger Jorge Manuel Brasil Mesquita said...

Tenha em conta o ilustre cronista que vivemos em época natalícia e, portanto, é compreensível, que o Governo confunda esmolas com prémios de horas extraordinárias a quem, sem trabalhar, produza o que já produziu, e recompense o seu taxímetro - com tralha que interessa a ninguém, a não ser aos peixes graúdos que nadam por aí - transformando o facto em presentes da Natal que todos compreenderão, sobretudo, a quem os receber, que a inveja é muita, e os pobres, segundo estatísticas, o Senhor Presidente da República, O Governo e sei lá quem mais, são uma corrida aos votos. Coitados, que mal lhes saberão estes papeis tão mal ensaiados e tão mal representados. Merecem grossa pateada.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Lisboa, 22/12/2010

22 de dezembro de 2010 às 13:43  
Blogger GMaciel said...

Junto a minha à sua raiva - se tal leitura me é permitida.

Mas as eleições estão a um mês e todos sabemos o que irá acontecer. Merecemos melhor? Não!

A seguir teremos legislativas "fora de época". Dar-se-á a mudança??? Não!

:(

22 de dezembro de 2010 às 14:28  
Blogger José Leite said...

Com as finanças de rastos, o país põe-se a jeitoe... há sempre um «Manholas» desconhecido no horizonte...

Será ou não será?
http://rouxinoldebernardim.blogspot.com/

13 de janeiro de 2011 às 18:31  

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