21.12.10

«Dito & Feito»

Por José António Lima

NA VÉSPERA da cimeira de Bruxelas, onde vai prestar contas à senhora Merkel e restantes parceiros europeus, José Sócrates anunciou um pacote de meia centena de medidas para aumentar a competitividade da economia - das quais, apesar de tão numerosas, pouco ou nada de concreto se sabe.

O que se sabe é que este extenso rol de medidas é o resultado directo das exigências feitas, há uma semana e meia, pelos eurocratas de Bruxelas a Portugal e, em particular, ao agora quase mudo ministro Teixeira dos Santos (que, contrafeito com o papel a que se viu remetido - de ouvir raspanetes nas reuniões europeias e andar a vender a dívida portuguesa porta a porta por esse mundo fora - se auto-impôs uma greve parcial de declarações públicas). O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, pediu a Teixeira dos Santos «novas medidas de consolidação orçamental», o comissário Olli Rehn insistiu com mais passos «nas reformas estruturais, como a da legislação laboral». E o resultado aí está.

Mas o que parece é que este pacote de 50 intenções vagas, conhecendo nós demasiado bem o estilo e as práticas de Sócrates, se destina mais a iludir os seus colegas europeus e a sossegar as suas exigências do que a ter qualquer efeito na competitividade da economia portuguesa.

Ainda assim, há aqui um padrão de comportamento que se repete. Foi também exactamente na véspera de uma importante cimeira europeia, do Ecofin, no final de Setembro, que Sócrates e Teixeira dos Santos anunciaram ao país o terceiro e mais drástico pacote de medidas de austeridade: corte de 5% nos salários da Função Pública, congelamento de pensões e subsídios sociais, aumento do IVA para 23%, etc. E foi também como resultado das crescentes pressões de Bruxelas que esse pacote foi aprovado em Conselho de Ministros.

Ou seja, o Governo, que há muito perdeu a autonomia e a iniciativa das decisões, passou a ser comandado ao ritmo das directivas de Bruxelas. E a aprovar pacotes de medidas em todas as vésperas de reuniões ou cimeiras europeias. Quanto a Sócrates, continua a dar profusas entrevistas, a desmentir a realidade e a vender ilusões. Reduziu-se a uma espécie de marketeer político. Antes de sair de cena.
«SOL» de 17 Dez 10

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