21.12.10

Abonos

Por João Paulo Guerra

HAJA QUEM
o diga, e di-lo, entre outros, António Horta Osório, do alto da sua autoridade e com a insuspeição de ser um perigoso esquerdista: o dinheiro dos contribuintes não deve ser usado para andar a salvar bancos.

Mas a verdade é que na cena doméstica, a cada novo saque anunciado ao bolso dos contribuintes, como a cada redução de salário ou de pensão, ou a cada extinção de mais um apoio social, lá vem o anúncio de mais uma "esmolinha" para a banca, e particularmente para a banca envolta em suspeitas de delinquência financeira. E é assim que o Estado já terá metido na banca em apuros tanto quanto pensa amealhar com toda a austeridade que vai fazer desabar sobre o comum dos portugueses.

Provavelmente, a esta hora os talibãs do dinheiro e do mercado já estarão a rotular Horta Osório, próximo presidente do intervencionado Lloyds Bank, de ser o novo "banqueiro anarquista". Embora muitos deles conheçam possivelmente tanto sobre o "Banqueiro anarquista" como sobre um tal Fernando Pessoa. Mas a verdade é que muitos daqueles que não têm escrúpulos em criar sempre novas, crescentes e mais dificuldades na vida da imensa maioria da população, e que até pensam que o povinho existe para fazer sacrifícios, também defendem que o Estado, o malfadado Estado, o Monstro, seja o guarda-costas e o seguro de vida dos apuros da banca.

No país onde se assiste ao regateio do aumento do salário mínimo em 83 cêntimos ao dia, quando se anuncia que o aumento dos preços dos transportes públicos atinge o dobro da taxa da inflação prevista, o Governo promoveu mais uma injecção de 500 milhões no BPN. E depois queixa-se que o povo tem a classe política na mesma conta do mixordeiro que rouba no peso e especula no preço.
«DE» de 21 Dez 10

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Muito bem, JPG.
Felicitações por este texto.
Realmente, os nossos governantes são piores que mixordeiros. Nem nunca terá havido mixordeiros que se possam comparar a tais governantes. E aqui, uso o termo governantes em sentido alargado: presidentes da república, governo, assembleia da república, banco de Portugal, muitas autarquias, empresas com participação do Estado, algumas (muitas) fundações, etc. Governantes porque poderosos e mandantes. E aproveitantes...
Assim o digo porque assim o sinto e assim o penso. Como penso que não têm perdão.
E dizê-lo sem chamar os "bois" pelos nomes já é usar de condescendente diplomacia...

21 de dezembro de 2010 às 18:14  

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