Iguais
Por João Paulo Guerra
O TRATAMENTO está a matar o doente. Mas o médico insiste na receita e propõe-se mesmo reforçar a dosagem. O doente é o País e a receita é a austeridade para a maioria, a que consome por estrita necessidade e assim deita carvão na máquina da economia. Por mais teoria com que se argumente não há volta a dar a esta realidade: as receitas destinadas a cortar cerce o consumo, até das mais elementares e vitais necessidades, arruínam a economia e assim, em última instância, agravam os índices da própria crise financeira.
Para além disso, essas políticas são absolutamente injustas: cortam à classe média e às classes baixas, fazem disparar a pobreza, arrasam as perspectivas de trabalho, arruínam o futuro da juventude, condenando-a a uma vida sem horizonte, gasta a angariar o pão em cada dia. Estas políticas fazem os povos pobres e infelizes, os jovens descrentes, e cada governante responsável pela infelicidade do seu povo devia ter de prestar contas perante a História. Ou então devia cair automaticamente do cadeirão do poder, em que se empoleirou mentindo ao povo com promessas eleitorais demagógicas para iludir as opções da livre escolha em democracia.
Lembro-me com frequência de palavras de D. Januário Torgal Ferreira, na apresentação do livro com a tese de doutoramento de Manuel Carvalho da Silva. Disse o prelado que cada vez que vê um sem-abrigo a dormir na rua, que vê um pobre sem remédio para a sua pobreza, que vê um desesperado perante uma vida de agruras, pensa que o governo - seja ele qual for - devia cair imediatamente por proporcionar tais infelicidades ao povo.
O pior é que a democracia, pela qual tantos lutaram, se transformou nesta perversidade: sai um e entra um igual, numa alternância em que só muda, se mudar, o alfaiate do chefe da banda.
«DE» de 2 Mar 11O TRATAMENTO está a matar o doente. Mas o médico insiste na receita e propõe-se mesmo reforçar a dosagem. O doente é o País e a receita é a austeridade para a maioria, a que consome por estrita necessidade e assim deita carvão na máquina da economia. Por mais teoria com que se argumente não há volta a dar a esta realidade: as receitas destinadas a cortar cerce o consumo, até das mais elementares e vitais necessidades, arruínam a economia e assim, em última instância, agravam os índices da própria crise financeira.
Para além disso, essas políticas são absolutamente injustas: cortam à classe média e às classes baixas, fazem disparar a pobreza, arrasam as perspectivas de trabalho, arruínam o futuro da juventude, condenando-a a uma vida sem horizonte, gasta a angariar o pão em cada dia. Estas políticas fazem os povos pobres e infelizes, os jovens descrentes, e cada governante responsável pela infelicidade do seu povo devia ter de prestar contas perante a História. Ou então devia cair automaticamente do cadeirão do poder, em que se empoleirou mentindo ao povo com promessas eleitorais demagógicas para iludir as opções da livre escolha em democracia.
Lembro-me com frequência de palavras de D. Januário Torgal Ferreira, na apresentação do livro com a tese de doutoramento de Manuel Carvalho da Silva. Disse o prelado que cada vez que vê um sem-abrigo a dormir na rua, que vê um pobre sem remédio para a sua pobreza, que vê um desesperado perante uma vida de agruras, pensa que o governo - seja ele qual for - devia cair imediatamente por proporcionar tais infelicidades ao povo.
O pior é que a democracia, pela qual tantos lutaram, se transformou nesta perversidade: sai um e entra um igual, numa alternância em que só muda, se mudar, o alfaiate do chefe da banda.
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4 Comments:
Não seria interessante saber qual a razão porque os portugueses só se revêem nas duas forças políticas que têm sido alternativas governamentais? Será pelas promessas que cada um deles faz, ou será porque todos têm o mesmo desejo de alcançar os proventos com que sonham e que lhes permitam almejar uma vida de bens materiais que só nos dois grandes partidos, PS e PSD, os portugueses encontram a alma dos seus anseios. O Futuro demonstrará isso mesmo. Sacrifício é uma palavra bastarda no pensamento de todos.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Lisboa, 02/03/2011
O povo paga, ponto final
Era uma vez a dívida que usa várias roupagens vistosas. Em qualquer inauguração faustosa, lá está ela com as suas vestes coloridas. De facto, a dívida é muito vaidosa. Tem tanto de vaidosa como de desastrosa, tal tem sido o seu espírito esbanjador. Essa dívida caminha, a passos largos e convictos, para um abismo financeiro. Aliás, ela tem como grande companheiro de caminhada o Gigante (Estado português), claro.
Através dos dados conhecidos, de ano para ano, o caminho tem ficado mais inclinado. Novos recordes são atingidos. Imaginem, a dívida é mais veloz do que Usain Bolt! Como é possível?! Sim, é possível. Os números não enganam, nem são para brincadeiras. Desculpem, como gostamos de brinquedos caros (tipo: submarinos e outros gadgets), andamos a brincar aos meninos mimados e materialistas que querem tudo e mais alguma coisa, desde que seja novo. Pior, por exemplo, se o vizinho tem um TGV, então, nós também temos de ter. Reparem, até temos um aeroporto sem aviões! É de ficar estarrecido só de pensar nos milhões enterrados naquela coisa inerte e em decomposição, em plena planície alentejana. Os alentejanos merecem mais respeito!
As coisas não ficam por aqui no que à dívida diz respeito. O Gigante, ávido de tantas modernices, cria formas de esconder a dívida nomeadamente através de uma coisa que dá pelo nome de PPP (Parcerias Público-Privadas; com hífen e tudo, sempre é mais fino). Dito de outra maneira, podemos considerar essas coisas de: Projectos Plutocráticos Portugueses. A saber:
- Projectos, porque envolvem grandes obras públicas com as inevitáveis derrapagens orçamentais;
- Plutocráticos, porque são construídos por grandes empresas de construção civil e, após a sua conclusão, ficam nas mãos de grande grupos económicos/financeiros;
- Portugueses, obviamente, porque são “Made in Portugal”.
Assim é mais fácil de perceber, certo? Também acho.
Deste modo, repetem-se os PEC’s (Programa de Estabilidade e Crescimento). Como em qualquer sequela cinematográfica, a paciência esgota-se. Reparem, até a própria designação é falaciosa, logo, chunga. Miseravelmente, chunga. O que é que esses programas têm de estabilidade? Bem, crescimento só se for da carga fiscal. O Gigante, por sua vez, adora PEC’s. Quantos mais, melhor! Se a aldrabice pagasse impostos, rapidamente teríamos superávite em vez de défice.
Porém, de uma coisa não há qualquer dúvida: seja dívida pública, seja dívida externa, elas existem e contribuem para alimentar a gula do Gigante. Este último era um “Zé Ninguém” sem elas. A dependência é total. E quem paga essa dependência? Perguntam alguns preocupados. Outros respondem logo, com ou sem palavras verbalizadas, algo do género: não interessa quando ou como pagamos, o que importa é termos essas modernices, nem que seja para inglês ver. Quem vier atrás que pague a factura! Ou, em alternativa, agrava-se um pouco mais nos impostos directos e/ou indirectos. Tanto faz! O povo paga, ponto final.
Em Democracia, a influência em candidatura do discurso político sobre o eleitorado deveria ser protegida ao máximo, pelo que não percebo porque é que não é óbvio que devesse ilegalizar-se a mentira clara (a falta à verdade ou a aldrabice, como se queira chamar a essa vergonha tão praticada em especial neste milénio) e criar-se sanções sérias para esses pulhas.
Agora fala-se verdade quando se diz que ainda é preciso maior contenção na despesa do estado. Mas logo a seguir, a conclusão é que se deve cortar nos salários dos mesmos do costume.
Já ouvi dizer que na realidade só há salários até Setembro e que se está prestes a fingir que pedem desculpa e a cortar impensada e inconsequentemente no 14º mês. Cortamos e logo se vê se serve para alguma coisa. Política séria e planeada, zero. (A não ser para os interesses - TGV e outros.) E depois alguém acha que "os mercados" levam a séro declarações fortuitas de certezas de estar tudo estável e a melhorar?
Espanto-me como é que não há um grupo tresloucado a cometer atentados e a abater os notoriamente responsáveis por um bocado do mal que tudo está e também por não pôr isto no caminho da melhoria.
Os que ainda não estão no poleiro, vão "desinteressadamente" esperando que isto esteja sem retorno e aí logo pegam nisto, podendo sempre dizer que a culpa é dos anteriores e que não sabiam que isto estava tão mal.
Quem tem razão é quem dizia que, no tipo de política que cá se pratica, 180 deputados ainda são 175 a mais do que é preciso. Corta!
«a razão porque os portugueses só se revêem nas duas forças políticas que têm sido alternativas governamentais?»
Começo a pensar,
que por desinteresse dos dois partidos 'virgens' de governo.
PCP e BE, mais interessados em manter o stato quo, do qual estão viver e bem, do que em dar um salto epistemológico de modo a convencer o eleitorado como alternativas.
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