20.3.11

Os últimos de Fucoxima

Por Ferreira Fernandes

DESTA VEZ, os kamikazes não são os que vêm pelos ares. Estes esvaziam a água sobre os reactores e regressam ilesos nos seus helicópteros. Desta vez, os que se sacrificam, sabendo que se sacrificam, estão no solo, e lá continuam com a única compensação de um dia terem um filme: "Os Últimos de Fucoxima." Mas para os seus compatriotas eles já conseguiram um certo controlo na escalada de perigo da central nuclear. As leituras de radiações diminuem, já se acredita que se está na fase de enterrar o pesadelo - a prova veio ontem em todos os jornais: as manchetes abandonaram o Japão, partiram para a Líbia. Fucoxima, grau 5, não chegará ao máximo, grau 7, de Chernobil. Graças aos 50. Tão anónimos que nem se sabe se serão esse número, talvez sejam 200 a trabalhar por turnos. A trabalhar tão depressa que nem deu tempo para o mundo lhes organizar o espectáculo: dar nome e cara a cada um.
Os 33 mineiros do Chile tiveram mais e, na escala dos heróis, fizeram menos. Os chilenos foram admirados pela sua coragem mas, afinal, lutavam por eles. Os 50 (ou lá quantos são) de Fucoxima, não; por eles o que fazem são doenças terríveis e certas. E nem têm aquele lenitivo que faz os heróis saltar as trincheiras, ou para comparação local e colorida, os kamikazes atirar os seus aviões contra os alvos - a morte breve e gloriosa. Os de Fucoxima são heróis pacientes, que fazem porque tem mesmo de ser feito.
«DN» de 20 Mar 11

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Sim. Justa referência.
A eles nunca se agradecerá como merecem.
Nem eles estarão à espera. Porque pessoas assim não são de esperar...

20 de março de 2011 às 19:19  
Blogger anamar said...

Tocanta artigo de FF. que se não se importar farei link para o Mar à Vista.

21 de março de 2011 às 11:12  

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