19.3.11

Membro de família e sócio de clube

Por Ferreira Fernandes

OBAMA no Brasil, e a sua visita ao Rio vai ser o ponto alto - no cimo de um morro. Ele nem vai lá, ao morro Chapéu Mangueira, mas a evocação deste pertence àquela forma íntima de fazer política de que Obama é mestre. Em 1959, um filme no Rio, Orfeu Negro, com um actor negro e música carioca: ele a cantar Manhã de Carnaval, no cimo do tal morro, olhando a baía da Guanabara, pôs uma jovem branca americana do Midwest a dar atenção aos negros. Por causa desse filme ela casar-se-ia com um queniano e daí nasceu Barack Obama - diz a lenda que o próprio pôs a circular. Mas a segurança americana achou Chapéu Mangueira demasiado morro e perigoso, então a favela a visitar será a Cidade de Deus, plana e mais controlada. Um encontro, pois, entre amigos - o jovem colosso sul-americano recebe o velho colosso norte-americano.
Acordos imediatos: investimentos americanos nas infra-estruturas do Mundial de 2014 e nos JO de 2016.
Acordos estratégicos: as reservas petrolíferas brasileiras são o dobro das americanas.
Um conflito: Washington não é adepto do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança.
E um assunto sério que não está na agenda: os EUA querem a NATO até ao Atlântico Sul. Grande potência do futuro, o Brasil não quer, aquele mar é seu.
Membro da NATO e irmão do Brasil, Portugal deveria começar a pensar neste assunto com inteligência. Pode apertar laços, defendendo a família no seio do clube de que é sócio.
«DN» de 19 Mar 11

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