23.5.11

Contestação

Por João Paulo Guerra

O MOVIMENTO de contestação que assentou arraiais em Madrid estendeu-se já a diversas cidades europeias, até mesmo com incursões em Portugal embora à escala da opinião pública portuguesa. É um movimento pacífico mas físico, isto é, com pessoas ao vivo e em protesto nos locais. Do mesmo modo, o movimento de ideias Uncut, nascido no ciberespaço, a partir de Inglaterra, assume já contornos físicos em diversos países e cidades, pugnando por uma Democracia Verdadeira. Muitas outras organizações, isoladas e dispersas, em toda a Europa e também em Portugal, têm dado ideais e corpo ao manifesto contra as políticas inevitáveis que, como os portugueses bem sabem, acarretam a inevitabilidade do desemprego e da pobreza para a maioria.

A Europa e o Mundo estão num momento crucial de luta, mas a luta é de todo desigual. De um lado esgrime-se com aspirações e ideias. Do outro estão a força dos Estados, de instituições transnacionais, como o FMI e a Comissão Europeia, e dos mercados. Cada um cavalga as respectivas ondas. Por exemplo, em Portugal, o patronato não perdeu tempo a agarrar e explorar a proposta de reduzir as suas contribuições para a Segurança Social e agora também quer riscar da Constituição o artigo que garante a segurança no emprego. Perante isto, e face a uma perspectiva de poder político de um bloco de três partidos que produziram a doença e agora se propõem produzir a cura com as mesmas receitas, que seria de esperar? A contestação como forma de expressão, evidentemente.

É a este fenómeno que se assiste, através de modalidades de organização, de comunicação e de intervenção muito diversas, informais e ágeis.
Entretanto, o poder vai olhando para o lado. Até ao dia em que mandará avançar os novos blindados.
«DE» de 23 Mai 11

Etiquetas: ,