20.5.11

Populismus

Por João Paulo Guerra

EM CAMPANHA eleitoral, a chanceler alemã Angela Merkel está a recorrer a argumentos do estilo “a Alemanha primeiro”. Perorando por estes dias numa cidade da Renânia, a antiga engenheira química da RDA, convertida à democracia cristã pela queda do Muro, não encontrou motivação maior para seduzir o eleitorado a não ser dizer-lhe que "não podemos ter uma moeda única onde uns têm muitas férias e outros poucas". O que vale é que as eleições são domingo que vem, ou então Angela Merkel ainda enviava espiões a Portugal, ou aproveitava os eventualmente residentes, para fotografarem os portugueses em restaurantes. E depois arengava às massas que Portugal precisa do dinheiro dos germânicos para ir jantar fora, como consta que fizeram os Verdadeiros Finlandeses, aqueles trogloditas políticos que arrotam postas de pescada enquanto comem bifes de renas do Pai Natal.

Para além de constituir um argumento do mais rasteiro populismo, a sentença de ‘frau' Merkel é um completo disparate. O que não impediu que parte do patronato português procurasse de imediato apanhar a boleia. Mas a verdade é que, por regra, os portugueses trabalham mais horas e têm menos férias que os alemães.

O declínio da classe política não é um fenómeno meramente português. E a pobre ‘frau' Merkel, se comparada intelectual e politicamente com um senhor da política alemã e europeia como Helmut Kohl, para só usar um termo de comparação da mesma família política, é uma pulga comparada com um elefante. Angela Merkel devia cuidar da linguagem e desfazer-se de referências próprias do mais baixo ‘populismus'. Tanto mais que alguma argumentação de extrema-direita, proferida na língua do pintor de tabuletas desperta logo sinistras, embora infundadas, ressonâncias.
«DE» de 20 Mai 11

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1 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Em 1989/90, eu trabalhei, durante muito tempo, numa empresa alemã, a Hartmann & Braun.
E se havia coisa que me fazia confusão era o facto de eles (pelo menos os técnicos) terem mais férias do que nós.

Nós tínhamos 22 dias úteis, e eles tinham... 30 (sim, 6 semanas!), que podiam repartir ao longo do ano, se quisessem.
Só acreditei quando vi os mapas de férias afixados na parede da sede (em Minden).

20 de maio de 2011 às 11:01  

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