1.6.11

Consules

Por João Paulo Guerra

ESPERA-SE a todo o momento que os funcionários do FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu que estão em Portugal em visita de fiscalização desmintam pública, inequívoca e categoricamente a afirmação atribuída ontem pelos jornais a Passos Coelho, segundo a qual «a Troika vota PSD». A emenda foi pior que o soneto. Segundo o DN, o líder do PSD, admitindo que a Troika não pode ingerir-se na política partidária portuguesa, terá corrigido para qualquer coisa como «se a Troika votasse, votava PSD». Em qualquer dos casos, espera-se o desmentido da Troika.

Bem se sabe que as campanhas eleitorais são bailes de máscaras e feiras de alardes - Portas de palhinhas na cabeça e de cravo na mão, Sócrates vestido de ganga, etc. - mas há limites. E se Passos Coelho está a usar o nome da Troika em vão, isso é tão grave como a Troika ingerir-se na política portuguesa e autorizar um partido a usar o seu nome no directo apelo ao voto.

Todo este episódio revela, por outro lado, a degradação da política doméstica. Há no leque partidário quem se ufane com o rótulo de partido dos prestamistas que tomaram conta do País, como há quem veja no rótulo um argumento para arrebanhar votos. Dir-se-á que a Troika está em Portugal a convite de portugueses. Os Filipes também se arrogaram o direito de governar Portugal a pedido e com a cumplicidade de parte da nobreza lusitana.

Perante a declaração de Passos Coelho, das duas, uma: ou a Troika não desmente o líder do PSD e confirma todas as suspeitas de que está em Portugal com a arrogância de um ocupante; ou desmente e deixa cair um dos seus esteios em Portugal. Pode ainda acontecer uma terceira hipótese: roidinhos de ciúmes, PS e CDS reclamam o seu quinhão de votos como consules da Troika.
«DE» de 1 Jun 11

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