22.6.11

Fiasco

Por João Paulo Guerra

A OPERAÇÃO Fiasco, com que a coligação se estreou no Parlamento, teve um objectivo plenamente conseguido: mostrar ao PSD que quem manda na parceria é o CDS.
O PSD bem pode querer, e até mesmo insistir, persistir, teimar, porque o CDS é que em última instância resolve. Aliás, quem não seja de memória curta lembrar-se-á que foi sempre assim em todas as coligações em que o CDS participou: Soares ou Balsemão traçavam planos, mas foi sempre Freitas quem puxou o tapete; Barroso e Santana anunciavam isto e aquilo, mas dependiam dos humores de Portas e da sua disponibilidade para mediáticas brigas e reconciliações. O professor Marcelo pode gabar-se de ser o único líder do PSD que terá comido, não as papas, mas a ‘vichyssoise', na cabeça do líder do PP. Foi por ter entendido isso que Portas terá estoirado com aquela hipótese de AD, em directo num programa de Herman José, denunciando a fonte de notícia sobre uma falsa conspiração decidida à mesa: "Até na ementa mentiu", lamentou-se.

Desta vez, porém, o líder do CDS teve tarefa facilitada, pela inexperiência e obstinação de Passos Coelho, como pela ambição cega do dr. Fernando Nobre. O curioso é que o raciocínio que conduziu Portas à vitória foi o mesmo que levou à derrota de Passos: cada um quis fazer prova de força e mostrar quem manda. O resultado ficou à vista.

O dr. Nobre também terá facilitado a derrota do partido que o fez eleger para São Bento, permitindo ao Parlamento dar prova de que pode, como deve, ser uma instituição acima dos governos e das cúpulas partidárias. O misto de arrogância e de ignorância com que alguém avança pré-eleito para o cadeirão de presidente do Parlamento levou uma demolidora cacetada. E nestas questões de regular funcionamento das instituições só se perdem as que caem no chão.
«DE» de 22 Jun 11

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