Foi mesmo necessário passar por esta derrota?
Por Ferreira Fernandes
SE NA ELEIÇÃO para primeira figura do Estado acabou por ter uma saída airosa - uma derrota, mas com votação acima do esperado -, Fernando Nobre não conseguiu ser a segunda figura do Estado com uma derrota tão cruel como as expostas pelas televisões: apesar de ladeado por dois futuros ministros, Paula Teixeira da Cruz e Miguel Macedo, e sentado na primeira fila do PSD onde estavam Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas, ele nem conseguiu, por duas vezes, ter o pleno dos votos do partido que o propunha. As derrotas doem mais quando são desnecessárias e previsíveis.
Ao ir ontem ao Parlamento, Passos Coelho sabia que só os votos do seu partido (108 deputados) não chegavam para eleger o seu candidato a presidente da AR (116 votos, no mínimo). E o seu aliado Paulo Portas sabia que sem os votos dos centristas (24), Fernando Nobre dificilmente reuniria entre a oposição os votos necessários para, acrescentados aos do PSD, ser eleito. Desses dois saberes tirava-se uma conclusão lógica: o Governo indigitado corria o risco de sofrer uma derrota política ainda antes de tomar posse. Aparentemente, o presidente do PSD e o presidente do CDS preferiram esse risco a faltarem à palavra: Passos Coelho escudou-se na promessa que fizera de apresentar Nobre, e Portas na de rejeitá-lo. A ver vamos se mais não valia ter negociado, de forma assertiva e aliciante, com Fernando Nobre para ser ele próprio a desistir. E o líder do PSD viu aritmeticamente demonstrado - 106 votos na primeira votação (secreta) a favor de Nobre, e 105 votos, na segunda - que nem conseguiu convencer todos os seus.
Por ironia, Fernando Nobre acabaria por ver, pela forma como foram conduzidas as duas votações que o derrotaram, que a principal acusação que lhe faziam pode ser infundada. A inexperiência dos procedimentos parlamentares impediam, dizia-se, a escolha para presidente da AR de alguém que nunca fora deputado. Ora, ontem, a mesa que dirigiu as votações era constituída por três parlamentares experimentadíssimos: Guilherme Silva e Duarte Pacheco, do PSD, e Celeste Correia, do PS. Mas o traquejo não os impediu de cometer um erro na primeira votação, ao recolher os votos antes de saberem qual o quórum no hemiciclo. Quando se fez a contagem, 106 a favor, 101 brancos e 21 nulos (total: 228 deputados), deu--se conta da falta de dois deputados. Emendou--se na segunda votação, chamando deputado a deputado e só deixando um votar depois do outro o ter feito - descobriu-se quem eram os faltosos (dois socialistas). Essas emendas também Nobre aprenderia depressa...
«DN» de 21 Jun 11SE NA ELEIÇÃO para primeira figura do Estado acabou por ter uma saída airosa - uma derrota, mas com votação acima do esperado -, Fernando Nobre não conseguiu ser a segunda figura do Estado com uma derrota tão cruel como as expostas pelas televisões: apesar de ladeado por dois futuros ministros, Paula Teixeira da Cruz e Miguel Macedo, e sentado na primeira fila do PSD onde estavam Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas, ele nem conseguiu, por duas vezes, ter o pleno dos votos do partido que o propunha. As derrotas doem mais quando são desnecessárias e previsíveis.
Ao ir ontem ao Parlamento, Passos Coelho sabia que só os votos do seu partido (108 deputados) não chegavam para eleger o seu candidato a presidente da AR (116 votos, no mínimo). E o seu aliado Paulo Portas sabia que sem os votos dos centristas (24), Fernando Nobre dificilmente reuniria entre a oposição os votos necessários para, acrescentados aos do PSD, ser eleito. Desses dois saberes tirava-se uma conclusão lógica: o Governo indigitado corria o risco de sofrer uma derrota política ainda antes de tomar posse. Aparentemente, o presidente do PSD e o presidente do CDS preferiram esse risco a faltarem à palavra: Passos Coelho escudou-se na promessa que fizera de apresentar Nobre, e Portas na de rejeitá-lo. A ver vamos se mais não valia ter negociado, de forma assertiva e aliciante, com Fernando Nobre para ser ele próprio a desistir. E o líder do PSD viu aritmeticamente demonstrado - 106 votos na primeira votação (secreta) a favor de Nobre, e 105 votos, na segunda - que nem conseguiu convencer todos os seus.
Por ironia, Fernando Nobre acabaria por ver, pela forma como foram conduzidas as duas votações que o derrotaram, que a principal acusação que lhe faziam pode ser infundada. A inexperiência dos procedimentos parlamentares impediam, dizia-se, a escolha para presidente da AR de alguém que nunca fora deputado. Ora, ontem, a mesa que dirigiu as votações era constituída por três parlamentares experimentadíssimos: Guilherme Silva e Duarte Pacheco, do PSD, e Celeste Correia, do PS. Mas o traquejo não os impediu de cometer um erro na primeira votação, ao recolher os votos antes de saberem qual o quórum no hemiciclo. Quando se fez a contagem, 106 a favor, 101 brancos e 21 nulos (total: 228 deputados), deu--se conta da falta de dois deputados. Emendou--se na segunda votação, chamando deputado a deputado e só deixando um votar depois do outro o ter feito - descobriu-se quem eram os faltosos (dois socialistas). Essas emendas também Nobre aprenderia depressa...
Etiquetas: autor convidado, F.F
6 Comments:
Fernando Nobre perdeu porque não é fiável, não percebe nada do que é suposto saber,é vaidoso.Ingénuo talvez!
Só não percebo a razão da sua indignação.
A falta de colo ao seu candidato é que me deixou constrangida e com "pena" do homem abandonado à sua sorte.
Disto você não se ocupou,infelizmente..
Acho piada a esta ideia da "experiência" necessária para se estar na política, qualquer que seja o lugar assumido.
Diz-se, imagine-se, que Nobre não tem traquejo para lidar com as assembleias de líderes, que o fariam em picadinho, que o trucidariam. Consta-se, e eu pasmo, que Nobre não saberia como conduzir a AR e as suas "idiossincrasias".
Quais? Os golpes palacianos - não, republicanos, caroço - as jogadas partidárias, as negociatas de bancada...
Quer isto dizer que estamos entregues a um bando de mafiosos que se dedicaram à política? E em vez de o criticarmos ferozmente, exigimos essas "qualidades" a quem quer que se lembre de pertencer ao grupo?
Ora bolas!!!
GMaciel,
O problema de Nobre foi apenas a imagem de incoerência que deu:
Ainda há poucos meses ganhou votos à conta de ser "contra os políticos e os partidos", e acabou integrado no maior deles (e num lugar de topo!).
Já sucedeu o mesmo com Eanes e Manuel Alegre - e até mesmo com Helena Roseta (nesta 2ª legislatura autárquica). E mesmo Salazar, que teve inicialmente apoio por ser contra os partidos, teve o seu (a União Nacional).
Além disso, Nobre, que garantiu há um par de meses, que nunca aceitaria um cargo partidário, deu-se ao luxo de "exigir" o lugar de presidente da A.R., dizendo que, se não o obtivesse, não aceitaria ser deputado.
Agora, já aceita.
Tudo isso somado, deu dele uma imagem muito negativa.
Imagino, pois, que muitos dos 'seus votantes' se tenham sentido defraudados, da mesma forma que eu votei em Alegre e em Roseta das primeiras vezes (e não nas segundas).
Caro CMR,
Eu votei Nobre para as presidenciais e não gostei do volte face por ele protagonizado. Feitas as contas e como diz, Nobre defraudou-me, mas daí a usar - como já li em vários blogues - a inexperiência como mote para negar a votação, é, aos meus olhos fartos dos esquemas partidários, incrível.
Talvez o meu comentário não esteja em consonância com o post, mas é o resultado de já ter lido tanta porcaria sobre o assunto - principalmente de quem vê o argueiro no olho dos outros e não a trave no seu - que... olhe, espalhei-me aqui.
:)
GMaciel
Também podemos ver o assunto por outro prisma, um pouco cínico:
Alguém que é capaz de prometer uma coisa e fazer o oposto logo a seguir (e 'sem se desmanchar')... se calhar até tem um óptimo perfil para político!
:))))
Pois, afinal será mais político do que aquilo que afirma.
Bem visto!
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