18.6.11

"Porque amo o meu jornal"

Por Ferreira Fernandes

O JORNAL francês Libération publicou o relatório do procurador de Nova Iorque que investiga o caso Dominique Strauss-Kahn. Título do jornal: "Ao ser preso, DSK invocou a imunidade diplomática e depois pediu uma sanduíche." E no texto repete-se que DSK "invocou a imunidade diplomática durante a sua prisão mas depressa se adaptou às circunstâncias e pediu uma sanduíche."
Ora, DSK foi detido às 16.40, de um sábado, quando foi mencionada a imunidade diplomática. Só no domingo, às 21.20, perguntado se queria comer, DSK pediu uma sanduíche.
Os relatórios oficiais relatam ao minuto - o que é mau para os jornalistas trafulhas, que ficam com a careca descoberta.
Um leitor indignou-se com o jornal: "'Depressa se adaptou às circunstâncias'?! Mas já se tinham passado mais de 24 horas!"
Parece coisa pouca e, de facto, outro leitor contemporizou: "Porquê assassinar o Libération? Todos os jornais fazem o mesmo..." V
oltou à carga o primeiro leitor: "Porque amo o meu jornal."
Eu sei do que ele fala. Devo uma legenda ao Libération. Em 1978, era ele um jornal da esquerda da esquerda, publicou uma foto do político de direita Aldo Moro, retratado, olhos de medo, quando estava raptado pelas esquerdistas Brigadas Vermelhas. Legenda: "Quando uma vítima, qualquer que seja o seu lado, nos olha assim, é com ela que estamos." Um jornal são factos, uma missão e uma moral; quando se torna uma coisa burra é parte da nossa liberdade que se perde.
«DN» de 18 Jnn 11

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