16.6.11

Optimismo

Por João Paulo Guerra

JÁ DIZIA o velho Jean Jacques Rosseuau que “os homens são bons por natureza, a sociedade é que os corrompe”. A neurocientista Tali Sharot concluiu agora que o optimismo é a tendência natural dos humanos, funcionando mesmo como um mecanismo de defesa contra as adversidades, sejam catástrofes naturais ou cataclismos económicos.
A viagem da cientista pelo irracionalismo do cérebro positivo, cujos neurónios expurgam pensamentos negativos e determinam as atitudes optimistas, levou-a a concluir, no livro agora publicado "A Tour of the Irrationally Positive Brain", que os humanos são "mais optimistas que realistas". E então, porque é que os homens conseguem adoptar esses mecanismos de defesa e continuar a lutar, mas depois acabam fatalmente por mergulhar num pessimismo crescente? Porque há um factor que nem mesmo os mecanismos do cérebro humano de defesa e sobrevivência conseguem controlar: os caminhos e a capacidade ou incapacidade dos líderes políticos para governar os países e satisfazer as aspirações dos homens.

Estamos assim perante um imbricado paradoxo da democracia: as escolhas políticas racionais dos homens, ou não representam escolhas ou não são racionais. E é assim que vencem, sem oposição nem mesmo dos neurónios, a tendência natural dos humanos para o optimismo, reduzindo-os ao mais negro pessimismo. Com uma agravante: é que enquanto o optimismo cria condições para lutar por um futuro que será necessariamente melhor que o presente, o pessimismo amarra os homens à modorra da resignação e da lamúria.

O estudo da neurocientista é geral e universal. O mesmo estudo, em Portugal, daria por certo conclusões diferentes. No reino do pessimismo instalado, o conformismo vai matando a esperança e não há neurónios que lhe valham.
«DE» de 16 Jun 11

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

A frase de Rousseau, acerca da bondade dos homens e do carácter maléfico da sociedade afigura-se-me, a todos os títulos, extraordinária, sobretudo se pensarmos que a sociedade é... o conjunto de todos os homens/seres humanos. Como é que aquele homem sabia tanto (e fundamentava a sua teoria) nunca eu compreendi.
E as implicações que essa teoria teve nas "políticas" do ensino estão à vista. Filomena Mónica tem mesmo um artigo, que li faz (bastante) tempo, em que chama aos alunos actuais os "filhos de Rousseau".
Os estudos sobre o irracionalismo do cérebro positivo que termina em pessimismo, sempre serão estudos. Mas, com que validade?...
Esperemos que a realidade nos esclareça, se entretanto não nos esquecermos (completamente) do estudo.
Sendo que há sempre (pelo menos) a realidade portuguesa a baralhar os dados...
Que imbróglio!

16 de junho de 2011 às 19:52  
Blogger Pi-Erre said...

Trata-se de conclusões apressadas ou mesmo erradas.
O que sabemos de fonte certa, de testes de psicologia cognitiva efetuados por Kahneman (prémio nobel da economia) e Tversky, é que as pessoas tendem, nos ganhos, a preferir o certo ao incerto, mesmo que este seja maior (preferem, p.ex., ganhar 3000 certos a ganhar com 80% de hipóteseses 4000, apesar do valor esperado desta prospetiva ser maior (3200)), e, nas perdas, temdema preferir jogar do que assumir a perda certa (preferem arriscar 80 % de perder 4000 do que perder de certeza 3000, isto é preferem arriscar perder 3200 do que assumir a perda certa de 3000), fenómeno que os autores denominam de "efeito certeza" Dito de outra maneira, as pessoas têm um comportamento de aversão ao risco nos ganhos e um comportamento de procura de risco nas perdas. É esta assimetria que justifica que a mesma pessoa faça um seguro para evitar perdas e simultaneamente gaste fortunas em jogos de casino - procura e evita risco em simultâneo: Kahneman e Tversy mostram que este tipo de irracionalidade (??) se manifesta com maior agudeza no que denominam de "aversão às perdas": as perdas parecem sempre maiores do que os ganhos equivalentes.Em suma, as pessoas têm uma função não linear de preferências, isto é, tendem a distorcer as probabilidades (atribuem mais peso a uma variação de probalidade que ocorra, por exemplo, entre 1 (acontecimento certo ) e 0,99 do que a uma variação que ocorra entre, por exemplo, 0,11 e 0,10, não obstante terem o mesmo valor absoluto).
Esta é a verdade científica. Tentar traduzir isto em mais ou menos otimismo não é ciência certa.

17 de junho de 2011 às 16:35  

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