17.6.11

Bloco: duas ou três coisas que sei sobre ele

Por Rui Tavares

1. O problema do Bloco nas sondagens não começou com o apoio a Manuel Alegre, nem com a moção de censura, nem com a falta à reunião da troika, nem com os possíveis ziguezagues entre uma coisa e outra.
Pedro Magalhães, politólogo e especialista em sondagens, publicou no seu blogue um gráfico no qual as intenções de voto no BE caem quando a campanha de Manuel Alegre começa a correr mal. Mas antes dessa descida o BE tinha também subido com Manuel Alegre, voltando a ser o terceiro maior partido em intenções de voto. O efeito, antes e depois, parece uma pequena montanha num vale não muito profundo. Cujo declive tinha começado no segundo de 2009. Foi aí que parou a imparável tendência de crescimento do BE.
Com efeito, o BE passou grande parte de 2009 numa cordilheira, sendo o terceiro partido mais votado, tendo resultados quase sempre acima dos dez por cento, chegando até a passar dos quinze. Durante talvez um semestre os inquiridos pareciam querer fazer do BE a grande surpresa política do país. Mas houve um momento, talvez um pouco antes das penúltimas legislativas, e certamente logo após estas, em que se percebeu que o BE não ia contar para a mudança — talvez compreensível — e que parecia contentar-se com isso — menos compreensível.
Semanas depois, o BE teve um péssimo resultado em Lisboa, onde tudo começara. A sua base precursora estava a tentar dizer-lhe algo.

2. Avancemos para o presente. Ao contrário do que se diz sobre as eleições mais recentes, as condições externas não eram agora desfavoráveis para o BE. Se outrora me tivessem dito que, um dia, em 2011, Portugal iria a votos com o FMI instalado no país, a convite do PS, numa total reviravolta do Primeiro-ministro, eu responderia “grande resultado para o Bloco”. O mesmo diriam os dirigentes do Bloco que, valha a verdade, fizeram uma boa campanha, acertando em cheio no tema principal da renegociação.
E porém o Bloco teve o seu pior resultado, não em termos absolutos, mas na proporção de votos perdidos e na dureza da mensagem que o eleitorado próximo do Bloco lhe enviou.
As razões, contudo, não estão nas condições externas, mas num desencontro entre eleitorado e partido sobre aquilo que ele poderia ser. O tal desencontro que começara no segundo semestre de 2009.

3. Chegados aqui, o debate sobre o BE é crucial para toda a esquerda portuguesa. A grande esperança de dinamização nela representada pelo BE entra agora no troço mais difícil do seu caminho, e já há encruzilhadas à vista.
A primeira diz respeito ao tipo de debate que o BE quer fazer sobre si mesmo, escolha para a qual os seus militantes são inteiramente soberanos, mas que será vista com atenção por todos os portugueses de esquerda.
A questão é se esse debate vai ser aberto ou fechado. O debate aberto tem grandes vantagens e alguns riscos; o grande risco do debate fechado é ele ser muitas vezes o plano B de quem não quer debate nenhum.
Isso ficou ilustrado na forma como Luís Fazenda respondeu às críticas de Daniel Oliveira. Não discutir razões e perguntar apenas “Quem é Daniel Oliveira?”, como fez Fazenda, é um não-argumento. Significa uma recusa do debate através da recusa do interlocutor. Esperei sinceramente que dirigentes do BE viessem a terreiro dizer com clareza que esta forma de não-discutir é imprópria de um partido democrático que tenha confiança em si mesmo.
O Bloco ganhará em correr o risco do debate aberto e sem medo, o único que o pode ajudar neste momento. O fechamento, ainda para mais temperado em sobranceria, só levará à estrada do masoquismo-leninismo.

In RuiTavares.Net

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