22.7.11

Não temos Murdoch mas temos pior

Por Ferreira Fernandes

HÁ DIAS, o americano Jon Stewart abordou o escândalo inglês das escutas como um alívio. Ele tem um programa televisivo diário, o Daily Show, onde a actualidade é apresentada com humor abrasivo. O seu ponto de partida era que a América está moralmente nas lonas. Um colega de Jon (esse, inglês) tratou de lhe mostrar que havia pior: a Inglaterra do caso Murdoch. Um país onde um jornal paga a detectives para escutar ilegalmente o telefone de uma menina raptada... "Para ajudar à investigação policial?", perguntou Jon, o ingénuo. Não, só para mexeriquice (a menina acabou assassinada). "Felizmente, há a polícia, que investigou esse jornal!", disse Jon. Qual quê, a polícia estava comprada pelo jornal... "Resta, o Governo..." Nem esse, o primeiro-ministro Cameron empregou como seu porta-voz o ex-director do jornal pulha...
No fim, Jon Stewart suspirou de alívio: a América estava muito melhor do que a Inglaterra. Sorte a dele, não a minha. Em Portugal, não há jornais que de forma sistemática pagam a bandidos para fazer escutas ilegais, é verdade. Mas não é por moral, é por falta de dinheiro dos jornais. O que não os impede de terem acesso a informações obtidas ilegalmente, por exemplo, em segredo de justiça. Fornecidas por quem? É isso que faz mais grave o nosso caso.
A máfia de Murdoch, por muito máfia, é clara nos seus propósitos: ganhar mais dinheiro e poder. A nossa é difusa, nem lhe conhecemos as intenções.
«DN» de 22 Jul 11

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Queira desculpar: as intenções se as não conhecemos, em concreto, somos capazes de imaginar muitas delas...
Mas, as intenções são de cada qual, pelo que, a esse nível, pouco haverá a fazer.
Bem andaríamos era se houvesse responsabilização efectiva pelas consequências, porque essas são por demais evidentes. Só que aí surge inevitavelmente o nevoeiro do costume. Independentemente do tempo, da localização e de quem pontua na liderança das instituições. Mormente nas da "justiça"...
Vá lá saber-se porquê!

22 de julho de 2011 às 17:24  

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