28.11.11

As claques que nos têm reféns

Por Ferreira Fernandes

SÁBADO, o jornal mandou-me para a "caixa de segurança" do Estádio da Luz. Reportei na edição de domingo.
Volto ao assunto com um pormenor: ali, na caixa, quase não vi adeptos. Daqueles comuns, dois amigos cinquentões que decidiram ir à bola, senhoras que apreciam o ar franzino do João Pereira, o pai que inicia o filho a ver o Rui Patrício, falando-lhe do Damas, da mesma forma que o pai dele, suspirando pelo Carlos Gomes, o levava a ver o Damas.
Sábado, quase ninguém dessa gente, como os com quem eu trabalho ou são meus amigos, e são do Sporting como eu não sou, e com quem eu discuto mas nunca me zango sobre futebol. Naquele galinheiro, tirando alguns dirigentes do clube em solidariedade com as claques, quase toda a gente era das claques. E havia uma explicação de pescadinha de rabo na boca para assim ser: só havia gente das claques porque eram as claques que lá estavam.
As claques são os eucaliptos dos estádios. O Benfica encafuou-as em condições ultrajantes, entre redes, e perigosas, multidão apertada em lugar íngreme, porque eram claques; e as claques portaram-se como se esperava delas, incendiando cadeiras.
Os adeptos sportinguistas ausentaram-se, naturalmente, desse lugar feio, porco e mau.
Os adeptos são reféns das claques dos seus próprios clubes. Qualquer clube. E assim será até à primeira direcção de um clube que não aceite ser cúmplice de criminosos e acabe com as claques.
«DN» de 28 Nov 11

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