Fado
Por João Paulo Guerra
ANA MOURA, que é indiscutivelmente fadista e cantadeira, é que falou bem. Disse que o fado “sempre foi património da Humanidade”.
Carlos do Carmo também falou bem e foi oportuno ao dizer que o País "nem sempre esteve apaixonado pelo fado", mas que "hoje se orgulha dele". De resto, e como seria de esperar, a justíssima decisão da UNESCO de reconhecer o fado português como património cultural imaterial da humanidade proporcionou a exibição de numa verdadeira feira de vaidades, com muita gente inesperada a pôr-se em bicos dos pés. Uma embaixadora da candidatura exibiu-se mesmo num filme de promoção reivindicando que o fado era ela. E não se deu por nenhum preopinante que se tenha lembrado de evocar a memória e a condição de embaixadora de Amália Rodrigues que divulgou mais o fado pelo mundo que a candidatura.
A alusão de Carlos do Carmo não se confinava certamente apenas aos alvores do chamado Estado Novo quando "o fado foi para o major". Isto é, quando o fado e os fadistas se viam a contas com o chefe da polícia dos costumes e do pensamento. Nem aos tempos em que a Emissora Nacional emitia palestras sobre "a miséria moral e musical do fado". É que o fado, se houve tempos que foi dos salões e outros que foi das tabernas, também foi alvo de perseguições e de preconceitos, tanto da parte de consabidos moralistas como de autoproclamados intelectuais.
Mas hoje os portugueses precisam de distinções e de condescendência que elevem um pouco a destroçada auto-estima nacional. E descobrem que têm consigo, nesta hora, o fado, fado triste das vielas ou fado alegre das praças e avenidas. Com que voz? A de Amália, certamente. Para dar voz a quem? Já agora, a um poema de Luís de Camões: "chorar não estima neste estado, aonde suspirar nunca aproveitou".
«DE» de 29 Nov 11ANA MOURA, que é indiscutivelmente fadista e cantadeira, é que falou bem. Disse que o fado “sempre foi património da Humanidade”.
Carlos do Carmo também falou bem e foi oportuno ao dizer que o País "nem sempre esteve apaixonado pelo fado", mas que "hoje se orgulha dele". De resto, e como seria de esperar, a justíssima decisão da UNESCO de reconhecer o fado português como património cultural imaterial da humanidade proporcionou a exibição de numa verdadeira feira de vaidades, com muita gente inesperada a pôr-se em bicos dos pés. Uma embaixadora da candidatura exibiu-se mesmo num filme de promoção reivindicando que o fado era ela. E não se deu por nenhum preopinante que se tenha lembrado de evocar a memória e a condição de embaixadora de Amália Rodrigues que divulgou mais o fado pelo mundo que a candidatura.
A alusão de Carlos do Carmo não se confinava certamente apenas aos alvores do chamado Estado Novo quando "o fado foi para o major". Isto é, quando o fado e os fadistas se viam a contas com o chefe da polícia dos costumes e do pensamento. Nem aos tempos em que a Emissora Nacional emitia palestras sobre "a miséria moral e musical do fado". É que o fado, se houve tempos que foi dos salões e outros que foi das tabernas, também foi alvo de perseguições e de preconceitos, tanto da parte de consabidos moralistas como de autoproclamados intelectuais.
Mas hoje os portugueses precisam de distinções e de condescendência que elevem um pouco a destroçada auto-estima nacional. E descobrem que têm consigo, nesta hora, o fado, fado triste das vielas ou fado alegre das praças e avenidas. Com que voz? A de Amália, certamente. Para dar voz a quem? Já agora, a um poema de Luís de Camões: "chorar não estima neste estado, aonde suspirar nunca aproveitou".
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1 Comments:
Ou seja (e repetindo-me):
Este país é igual a fado.
Com as vogais trocadas.
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