7.12.11

Desigualdade

Por João Paulo Guerra

A OCDE, ao divulgar por estes dias o mapa do fosso entre ricos e pobres, desafiou os governos do mundo a apoiarem a educação e a saúde, para atenuar as desigualdades.

Está bem de ver que Portugal, que já ostenta o título de campeão da Europa na disciplina de desigualdades, se vai abalançar ao título mundial.

Entre os países observados pela OCDE, Portugal é o mais desigual da Europa. A política mede-se pelos resultados e este é um título que devia envergonhar a classe política. Não é como ser mais ou menos pobre, mais ou menos desenvolvido ou em vias de desenvolvimento, como se dizia. Ser desigual é o resultado de uma política injusta, tirânica e eventualmente delinquente, que favorece uns e penaliza outros, com a particularidade de os favorecidos serem sempre um grupo restrito e privado, cujo favorecimento afronta a penalização da população em geral.

Em Portugal, nos tempos do cavaquismo, a ideia era a de criar uma forte classe média que se opusesse, como um tampão, ao proletariado vindo da ditadura e da revolução. Mas hoje a classe média está em vias de extinção, absorvida pelo empobrecimento decretado pelo Governo sob os auspícios de Belém e da ‘Troika'. Os pobres são hoje e serão no futuro imediato muitos mais e muito mais pobres, enquanto os ricos são um clube cada dia mais privado de financeiros e gestores da finança. Não são, sequer, como dizia recentemente Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia em 2008, "empresários heróicos criadores de empregos", mas sim os "sortudos", acionistas, executivos e advogados da alta finança.

Ao anunciar recentemente aos portugueses o empobrecimento como receita para "a crise", era isto mesmo que o primeiro-ministro prometia: ainda maior desigualdade.
«DE» de 7 Dez 11

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