6.12.11

Notícia dos pequenos, e enorme

Por Ferreira Fernandes

COM O NOSSO jeito de olhar para Vasco da Gama e não ligar ao marinheiro da gávea, soubemos tudo sobre as lágrimas da ministra italiana, sobre a generosidade de Mário Monti, que prescindiu do ordenado, e sobre o plano n.º 37 do casal "Merkozy" para nos tirar da crise.
Não que todas essas notícias de ontem não sejam importantes, porque são. O choro sincero soube bem por nos darmos conta de que em cima não há só autómatos e cínicos. Idem, para o gesto do primeiro-ministro italiano. E sobre a cimeira franco-alemã é de louvar a sinceridade semântica ao chamarem Mecanismo Europeu de Estabilidade ao novo organismo que vai gerir os fundos emprestados aos países.
Com "Mecanismo", espécie de biela-manivela, ficou claro que ganhou a Alemanha (se fôssemos nós a mandar na cimeira chamaríamos ao novo departamento Colina do Sol da Tranquilidade).
Mas além dessas notícias dos grandes, houve ontem uma dos pequenos, e enorme. A Bélgica que não se entende entre partidos e à qual ainda há pouco uma agência de notação baixou a nota, essa Bélgica em perigo lançou um pedido de empréstimo. Ora o Estado belga não quis financiar-se nos organismos internacionais e pediu aos seus cidadãos. Esperavam 200 milhões, recolheram quase trinta vezes mais, 5,5 mil milhões de euros.
Sim, foi porque os belgas tinham essas poupanças. Mas, sobretudo, eles tinham resposta para a pergunta: o que queres fazer pelo teu país?
«DN» de 6 Dez 11

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3 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Há dias, em comentário a uma crónica de JPG, referiu-se o mesmo, em relação ao Japão:
A dívida desse país é gigantesca (em termos de percentagem do PIB) mas é, em grande parte, dívida 'interna'.
Isso faz toda a diferença em termos de soberania.

6 de dezembro de 2011 às 21:07  
Blogger ZéZé de Moledo said...

Essa resposta entusiástica do belgas deixou muita gente surpreendida, dado que uma boa parte deles não se revê, ou parece não se rever, no actual Estado belga. Mas será apenas ou sobretudo uma questão de fervor patriótico e deste modo quererem afastar eventuais troikas a mandar no seu "milenar" reino? Não me parece. O que também terá contado (não conheço as condições) deve ter sido a remuneração e, sobretudo, a confiança em que esse Estado não os defraudará. Ora o que tem acontecido em Portugal é que os aforradores que lhe têm confiado as suas, ainda que pequenas, esforçadas poupanças têm sido frequentemente defraudados ou mesmo espoliados. Durante décadas pagou-lhe ilusórias txs de juro na realidade quase sempre fortemente negativas, chegou ao ponto de lhes "impor" o resgate dos C.Aforro preferindo ir financiar-se no estrangeiro (com que resultados!! por esses patriotas C.Pina e Teixeira dos Santos) Neste momento para uma tx de inflacção de 4,5% está a pagar aos descuidados que ainda lá mantêm 13 mil milhões uma tx de 2,1%, portanto esses descuidados estão de facto a pagar um imposto invisível de 2,3% sobre o montante que emprestaram . Note-se que uma das "contrariedades" que muitos vêm na pertença ao Euro é a dificuldade em decidir a seu belo prazer essa expoliação, por vezes dissimulam mal o ranger de dentes...
Para quem não esteja lembrado em Portugal já houve emissões de dívida com a referência explícita ao seu carácter patriótico. Os resultados face à então também situação de emergência até nem foram maus. Os "patriotas" que depois, passados anos, fizeram perceberam que tinham feito uma contribuição que beneficiou em especial os que a ela ostensivamente se recusaram..

7 de dezembro de 2011 às 09:28  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Por outro lado, eu tirei algum dinheiro dos C. Aforro e meti em em "aplicações": no Santander-Totta e no Millennium BCP.

Embora as cotações variem de dia para dia, o que lá tenho vale MUITO menos do que o que lá meti (pois são valores que dependem das cotações da bolsa).
Claro que já houve uma época em que se passou o inverso, mas o 'jogo' (desde que não sejam depósitos a prazo à antiga) é mesmo assim...

7 de dezembro de 2011 às 10:00  

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