Receita
Por João Paulo Guerra
CAUSOU algum choque na opinião pública - ou, pelo menos, na publicada - a notícia de que “médicos do Hospital de São João foram impedidos de receitar um medicamento oftalmológico por ser mais caro do que outro receitado para o cancro mas usado na visão.”
Compreende-se o escândalo, de quem considerou tal situação "impensável num país civilizado." Mas é de crer que isto poderá ser apenas a ponta do ‘iceberg', a ínfima parte visível, que logo gerou indignação e vergonha, de uma prática que poderá estar generalizada nos centros de saúde e hospitais administrados pelo Estado.
E, a comprová-lo, está uma sucessão de notícias que se seguiram a esta. As consultas de especialidades caíram 37 por cento nos centros de saúde. Há menos meio milhão de atendimentos a crianças e jovens. A associação dos doentes com esclerose queixa-se de entraves colocados à ministração de medicamentos mais caros. "Quem quer saúde, paga-a" é um preceito constitucional não escrito mas aplicado pela casta dirigente à revelia do texto da Constituição. E assim, em certos casos, deixa de ser o médico para passar a ser o guarda-livros a receitar os medicamentos mais apropriados, não em função da adequação ao caso clínico mas do preço.
O que mais espanta nesta situação é a debilidade da denúncia, do repúdio e até mesmo da recusa em seguir tal prática que se impõe, administrativamente, a uma decisão que cabe por todas as razões ao clínico, à sua formação e consciência. Na nova ordem imposta em Portugal as pessoas estão no mais baixo patamar: os interesses mandam na finança, que manda na economia, que manda na política, que manda na burocracia, que manda no conhecimento, que gere as actividades, que comandam as vidas das pessoas, que sustentam toda a máquina que as maltrata.
«DE» de 6 Dez 11CAUSOU algum choque na opinião pública - ou, pelo menos, na publicada - a notícia de que “médicos do Hospital de São João foram impedidos de receitar um medicamento oftalmológico por ser mais caro do que outro receitado para o cancro mas usado na visão.”
Compreende-se o escândalo, de quem considerou tal situação "impensável num país civilizado." Mas é de crer que isto poderá ser apenas a ponta do ‘iceberg', a ínfima parte visível, que logo gerou indignação e vergonha, de uma prática que poderá estar generalizada nos centros de saúde e hospitais administrados pelo Estado.
E, a comprová-lo, está uma sucessão de notícias que se seguiram a esta. As consultas de especialidades caíram 37 por cento nos centros de saúde. Há menos meio milhão de atendimentos a crianças e jovens. A associação dos doentes com esclerose queixa-se de entraves colocados à ministração de medicamentos mais caros. "Quem quer saúde, paga-a" é um preceito constitucional não escrito mas aplicado pela casta dirigente à revelia do texto da Constituição. E assim, em certos casos, deixa de ser o médico para passar a ser o guarda-livros a receitar os medicamentos mais apropriados, não em função da adequação ao caso clínico mas do preço.
O que mais espanta nesta situação é a debilidade da denúncia, do repúdio e até mesmo da recusa em seguir tal prática que se impõe, administrativamente, a uma decisão que cabe por todas as razões ao clínico, à sua formação e consciência. Na nova ordem imposta em Portugal as pessoas estão no mais baixo patamar: os interesses mandam na finança, que manda na economia, que manda na política, que manda na burocracia, que manda no conhecimento, que gere as actividades, que comandam as vidas das pessoas, que sustentam toda a máquina que as maltrata.
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