13.12.11

Pezinhos de dança e de coentrada

Por Ferreira Fernandes

O EMPRESÁRIO Olivier Costa chamou Guilty ("Culpado", em inglês) ao seu restaurante e a ASAE tomou a coisa à letra: prendeu-o - a história podia ficar por jogo de palavras. Mas seria errado, pois vale a pena pensar sobre ela.
A culpa do Olivier: só tem licença de restaurante e de bar mas, havendo música, entre o tornedó e o tiramisù há pares que às vezes se levantam e dão uns passos de dança. Não podem!, saltou a ASAE, porque a licença do Guilty não é de "restauração com espaço de dança", o que impede os clientes de saborear um bolero.
Dir-me-ão, a lei é assim e a ASAE só a aplica. Mas digo eu, porque isto é uma crónica e aqui não se vendem alvarás: se é assim, a lei e a ASAE que se tratem.
Esta história ainda faria sentido há uns tempos, quando éramos uma Europa imparável e criadora do homem novo. Então até se justificavam multas ao patrão de restaurante, sem licença de espectáculos de stand up comedy, que ao entregar a ementa contasse anedotas aos clientes. Ou, sem licença de emitir telejornal, anunciasse o resultado da bola.
Acontece, porém, que estamos em crise (é o que tenho lido). Seria prudente que os aplicadores da lei parva respeitassem quem quer e sabe trabalhar. Se não sabem fazer o mesmo, ao menos que fechem os olhos. Se um tipo da ASAE vir um par a dar um passo para a direita e dois para esquerda, que não veja nisso tango mas, sei lá, só a gentileza de dois clientes tentando dar passagem um a outra, ok?
«DN» de 13 Dez 11

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