10.12.11

Ensino e Educação

Por Antunes Ferreira

COMEÇARAM a ser conhecidos os dados provisórios do Censos 2011. Entre eles, naturalmente os mais diversos, avultam os que revelam que cerca de um quinto da população portuguesa não tem qualquer nível de ensino. Esta é a realidade estatística, sujeita a diversas formas de interpretação, é certo. Mas crua, na nudez dos números e das percentagens.

De acordo com os resultados dos inquéritos levados a cabo para se concretizar o censo do ano que estás prestes a acabar, o ensino básico do 1.º ciclo corresponde a 25%; 13% da população concluiu o secundário e 12% possui o ensino superior completo, um número que quase duplicou entre 2001 e 2011. Valores que dão para pensar, valores que, ainda que provisórios, no mínimo são preocupantes.

Perante os resultados, o coordenador do Gabinete de Censos do INE, Fernando Casimiro, debruçou-se especificamente sobre o ensino superior, comparando os três últimos decénios, e destacou a existência de 284 mil licenciados em 1991, para 674 mil em 2001 e para 1,262 milhões este ano. Destes, são as mulheres quem possui qualificações mais elevadas, sendo 61% dos licenciados do sexo feminino, mas são também as mulheres que predominam no grupo de pessoas sem qualquer escolaridade.

Os dados revelados se são - e como se vê acima – reveladores do que se avançou no ensino universitário, e por isso, animadores, transformam-se, porém, em sérias preocupações face às interrogações que se nos colocam. Quererão eles dizer que o analfabetismo ainda é suficientemente grande em Portugal, ou englobarão também a iliteracia? Ou seja que, apesar do ensino obrigatório contemplar 12 anos, tal não passará de uma… treta? Por cá, somos os melhores exemplos do famigerado oito ou oitenta.

O melindroso tema da Educação, ou melhor, da educação entre nós tem muito que se lhe diga. Sem ir mais longe, voltem-se uns anos atrás, mais precisamente a 1952, onde, na vigência do Estado Novo, foram elaboradas as primeiras medidas institucionais no âmbito da educação de adultos: o Plano de Educação Popular e a Campanha Nacional de Educação de Adultos. Estas medidas dos anos cinquenta não se revelaram muito frutuosas, bem pelo contrário.

O que se tem vindo a passar nas últimas décadas, já depois do 25 de Abril – ainda se recordam o que foi, creio… - é um verdadeiro zigue-zague que, tal como uma montanha russa, tem subidas e descidas cada vez mais complicadas e assustadoras. Daí, desses sucessivos altos e baixos, podem tirar-se ilações pouco simpáticas. Os dados provisórios do Censos 2011 são disso exemplo.

Mas, ao cabo e ao resto, eles apenas vieram expressar quantitativamente aquilo que na qualidade (?) há se sabia. Basta ter em atenção reportagens televisivas e jornalísticas sobre o nível cultural de jovens universitárias e universitários. Muitas das respostas dadas são inenarráveis. Desde o maior mamífero existente ser o mamute, até ao facto de não se saber quem descobriu a penicilina, «porque não sou muito forte em História», são tamanhas as tristezas e as lamentações dos que, mais conscientes ou menos desatentos, as viram e/ou ouviram, que nem vale a pena prosseguir neste vale de lágrimas.

A I República, de que tanto mal se disse (e ainda se diz…), no que concerne ao tema fez sair legislação que, em resumo afirmava dicotomicamente: a Educação compete à Família; o Ensino compete à Escola. Os maniqueísmos nunca são bons, como se sabe e, além disso, os extremos… tocam-se. Daí que uma mistura sabiamente doseada seja, pelo menos, uma solução – possível.

O amigo Banana diria que os exageros são manifestamente… exagerados. E o facto de cerca de quinto da população portuguesa não ter qualquer nível de ensino é um extremo. Quanto ao nível da educação, falar-se-á noutra oportunidade. E da má educação, idem, idem, aspas, aspas. Como disse o nosso Raul Solnado, façam o favor de ser felizes.

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6 Comments:

Blogger Xavier M. Gonçalves said...

Sou médico dermatologista e interesso-me por assuntos da educação e do ensino, pois também dou aulas. Gostei deste post do Dr. Antunes Ferreira de quem ouvi referências muito boas. Leio, habitualmente o Casal das Letras e lá vi duas entrevistas deste "jornalista histórico" como eles dizem.

Tenho de contactar o autor, porque em determinados aspectos não concordo com ele e é da discussão que se faz a luz. Como passo por A Minha Travessa do Ferreira, fá-lo-ei.

De todas as maneiras, quero felicitá-lo Senhor Engenheiro Carlos Medina Ribeiro pelo óptimo blog que tem. É a primeira vez que aqui venho, mas vou voltar.

Cumprimentos

10 de dezembro de 2011 às 12:16  
Blogger Maria said...

A.F.
"25 de Abril"? Ah! aquele dia em que descobriram que havia cravos vermelhos.
5 de Outubro? Dão-lhe tanta importância que, até deixou ou, vai deixar, de ser feriado.
Educação? Não existe. Palavra completamente obsoleta.
Instrução,dizes tu que, 25 por cento não têm. E os outros? Alguns conseguem ser dótores e engenhêros mas, quanto a instrução...
Abraço
Maria

10 de dezembro de 2011 às 12:52  
Blogger Prof.Ms. João Paulo de Oliveira said...

Caro confrade Henrique Antunes Ferreira!
Os dados inquietantes que você trouxe à baila desvela que, tanto ai no reino distante além-mar quanto aqui, a cruciante questão do não domínio das competências leitora e escritora não é diferente...
Caloroso abraço! Saudações henriquecedoras!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP

10 de dezembro de 2011 às 18:25  
Blogger R. da Cunha said...

Tema(s) muito complicados para ser(em) objecto de um comentário. Temos por aí gente muito competente na sua área, mas iletrados quanto baste, e não me refiro a um inquérito que anda por aí. Há dias ouvi na RTP um jovem advogado dizer que se "a testemunha manter o depoimento...), não sei quê...
12.º ano obrigatório? E se, antes, um bom 9.º ano (com boa preparação na língua materna e numa outra à escolha, e comhecimentos de matemática consolidados?) antes de se avançar?

10 de dezembro de 2011 às 18:33  
Blogger Julião Tendinha said...

Este senhor continua a meter-se onde não é chamado. Que percebe ele de Ensino? Já deu aulas? Se calhar também é daqeles professôres que passam a vida a fazer gréves. Lá que escreva baboseiras no blogue dele, é o patrão. Mas também aqui diz tontices.

11 de dezembro de 2011 às 11:30  
Blogger Edward Fernandes said...

Amigo Antunes

Não ligue a esse senhor Tendinha. Deite-o ao desprezo. É aqui, é na sua Travessa, é muito incómodo e mal criado. Mas, as palavras ficam com quem as usa e as acções com quem as pratica.

Infelizmente, os resultados na educação e no ensino andam muito por baixo. Mesmo aqui nos EUA.

12 de dezembro de 2011 às 01:13  

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