9.12.11

Escrevendo sobre um ninho de cucos

Por Ferreira Fernandes

PSSTT!, psstt!, sim, é contigo, meu colega jornalista raro. Tu, eu sei, esta semana, quando o imbecil do teu chefe disse que estavam a preparar uma emissão de arromba, estilo Day After, com o telejornal tendo por cenário uma bomba nuclear a rebentar o euro, ou estilo O Dia Depois de Amanhã, com um tornado varrendo os euros de Lisboa e uma vaga gigante levando por diante as máquinas multibanco da Avenida dos Aliados, tu, meu raro colega, agiste como uma pessoa sensata. Meteste-te no carro, foste ao teu banco, levantaste os teus euros e desfizeste-te dos PPR. E disseste à tua mulher para fazer o mesmo, aos teus pais e aos teus amigos.
Sim, porque quem sabe que na quinta à noite se vai esganiçar no estúdio sobre a catástrofe do fim do euro, na quarta de manhã faz por minorar as suas próprias desgraças.
Foste egoísta? Sim, mas num campeonato de imbecis um egoísta é uma bênção. Foste sensato, repito. Então, sai-me da frente que não é contigo que quero falar. Quero é falar com os outros, que não foram anteontem ao banco.
E que, ontem, jornalistas histéricos, abanaram o fim do euro, mostraram notas carimbadas que vão desvalorizar as poupanças nos bancos, assustaram as velhinhas de Aljustrel e os solitários da Graça.
Quero falar convosco, caros colegas imbecis, para dizer o que vocês são: burros. Então, para fugir da catástrofe iminente e inevitável, nem com vocês, podendo, se preocuparam um bocadinho?
Burros.
«DN» de 9 Dez 11

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