8.1.12

Se me dão música que seja o baião

Por Ferreira Fernandes

ONTEM, vi a foto de um maçom desfilando com o avental: Luiz Gonzaga (1912-1989), o Rei do Baião. Olha, disse-me eu, afinal não esperei pelos da Mozart para que os maçons me iniciassem com a sua música. Confesso, comecei por ser deste sertanejo e da sua sanfona antes de saber apreciar as Bodas de Fígaro.
Quando o meu jornal, há semanas, dedicou várias páginas à maçonaria, lembrei: "O melhor no mundo moderno ocidental, da igualdade à liberdade, está-lhe ligado." Não soube, então, acrescentar também essa dádiva: o baião. Só este bastaria para justificar a bondade da maçonaria. O que ainda me torna mais perplexo pela modéstia de tantos maçons em não se assumirem.
Infelizmente nunca fui sondado, ou lá como essa coisa se faz, e não posso dizer: "É, sou daquilo que o Luiz Gonzaga foi." Na verdade ficava também na contingência de alguém dizer que eu era da maçonaria tal como o maluco assassino norueguês.
O meu camarada Henrique Monteiro, do Expresso, ingénuo como ele nunca é, escreveu ontem que a maçonaria deveria "ter mais cuidado com o que fazem aqueles que lá deixa entrar." Como se alguma sociedade humana conseguisse impedir os canalhas de entrar...
Na maçonaria, claro, há bons e maus. Ontem, o maçom António Arnaut, que deu sempre a cara, aconselhou os seus colegas a assumirem-se. Suspeito que é péssima ideia para alguns. E se calhar está aí uma lei: a relutância em se mostrarem está na razão direta das suas más intenções.
«DN» de 8 Jan 12

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