15.3.12

Antipolítica

Por João Paulo Guerra

NESTA semana são já duas vozes que se erguem alertando para perigos que pairam, nestes tempos de crise, sobre a democracia em Portugal.

Decerto não combinaram. Mas terça-feira, no lançamento de um livro em Coimbra, e quinta-feira em entrevista ao Público a propósito da publicação de um livro de textos políticos, Pacheco Pereira alertou para a existência de um ambiente propício ao surgimento de um novo Sidónio Pais, enquanto António Costa chamou a atenção para a "abertura de brechas" que podem ser perigosas se não se revigorar a democracia.

Quer isto dizer que a questão da democracia começa a colocar-se em certas agendas. Pacheco não está ainda a denunciar a chegada de Sidónio "montado num cavalo branco, populista e demagógico" pondo em causa a democracia. Tal como Costa não está a inaugurar as obras de reabilitação urbana da brecha entre eleitores e eleitos. Mas um e outro têm vivas na consciência as ameaças que por aí pairam. E posto isto o melhor será variar o tema pois os dois protagonistas não mais se entenderiam. Que se entendam sobre esta questão já é importante. E até aqui ainda é possível ler António Costa sobre os partidos "irem deixando de ser espaços de cidadania"; e Pacheco Pereira a visualizar a representação de um "Sidónio" que "virá pela televisão", personalizado "por alguém que será simpático para um número significativo de pessoas e que fale a linguagem anti-política".

Seja o que for que espera a sua hora, a verdade é que essa onda começa a percorrer a Europa, enquanto a política da miséria cria o caldo de que se alimentam os ovos da serpente. Ninguém desdisse, aliás, que esse seja o desiderato da política de ruína e miséria que uma parte da Europa impõe à outra.
«DE» de 15 Mar 12

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1 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Faz muito bem Aº Costa em falar em revigorar a democracia.

Como exercício prático, sugiro-lhe que comece por Lisboa - se quer minorar a brecha entre eleitores e eleitos.

Vivo nesta cidade há 63 anos e, de ano para ano (quase diria de dia para dia!), vejo-a cada vez mais desmazelada, vazia, desumana, porca e caótica.
Quem a usufrui (nela morando ou apenas trabalhando) não a estima, e os que a gerem não parecem importar-se com ela - começando, evidentemente, por não andarem nas suas ruas a pé.

15 de março de 2012 às 11:17  

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