13.3.12

Chove fé sobre a seca

Por Ferreira Fernandes

DO MEU lado esquerdo, Assunção Cristas, ministra da Agricultura, do meu lado direito, António Vitalino Dantas, bispo de Beja. Ambos combatem pela chuva. Na minha opinião, Cristas melhor. Não que a ministra consiga trazer mais chuva. Aí, está como o bispo: não pingará nem uma gota com o que uma e outro façam (digo eu, que organizei o combate e estabeleci as regras, e a primeira delas é: nem ministros nem bispos fazem chover).
Quando digo que a ministra faz melhor do que o bispo refiro-me a combater. Em combates destes, que nos escapam, há que saber dar a volta à coisa. A ministra da Agricultura sabe que é julgada pelo que se passa no seu pelouro. Com a persistência da seca, ela anunciou a sua medida: "Sou uma pessoa de fé, esperarei que chova." Isto é, sacudiu a não água do capote. Quando nada há a fazer, repito, é o mais avisado. Se por acaso chover, o povo vai pensar que ela se relaciona bem alto...
Já o bispo de Beja, sobre a chuva, lamentou a falta de orações: "A maioria da população não acredita na providência divina, mas somente na previdência de Bruxelas."
Perigosa tática, a do senhor bispo. É que de Bruxelas sempre é capaz de pingar qualquer coisinha. E se depois vier uma carga de água, vamos jurar que não houve intervenção de São Pedro, pois não teria havido, segundo o próprio bispo, orações.
Em tempos antigos, para falar ao povo, não havia nada como a Igreja. Agora, os políticos são manifestamente mais hábeis.
«DN» de 13 Mar 12

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