O prefácio
Por Baptista-Bastos
ANDA POR AÍ um desassossego de frases agrestes que envolvem um autor e o prefácio a um livro de discursos. O autor é o inexcedível dr. Cavaco. O prefácio é um texto levemente tonto e claramente escrito com a fatal tendência para a quezília e o conflito gramatical. Nada de importante. Impelido pela minha malvada curiosidade, decidi-me a ler o texto, sabendo, de antemão, que tamanho exercício mental ser-me-ia extremamente fatigante.
Espanto dos espantos!, ao contrário do que se diz, o teor não passa de modesta redacção, das que as professoras primárias nos exigiam na antiga terceira classe. Não se vislumbra nenhum ajuste de contas, apenas a expressão mal cerzida da birra de um homem amuado porque um outro o desprezou quando o não devia desprezar. A tal "deslealdade institucional" pode ser criticável, com base numa certa alínea da Constituição, a que o autor se apoia, mas é caso de pouca monta, tendo em aviso o que ele faz a outros, com displicente sobranceria. E as coisas não foram bem assim, a crer nas contraversões seguintes.
Sócrates, que tem sido o bombo da festa, com pancadaria de criar bicho nos lombos e na alma, serve de pretexto, neste parolar copiosamente vesgo, para o autor nos fornecer o estofo do homem e o estilo do estadista. Atordoado com a quantidade e o teor das críticas que recebeu, decidiu remeter os inadvertidos para o "sítio" que alimenta na rede. Disse, grave e soturno: ali está o que, na verdade, escrevi. E alertou para eventuais manipulações de conteúdo, praticadas, como doloso objectivo, pela imprensa.
Precipitei-me, arquejante, para o "sítio", na ânsia de descortinar o que os jornais haviam omitido. Nada de novo, nem de diferente. A mesma peripécia atabalhoada: umas tacadas num homem tombado e cheio de nódoas negras. O pouco edificante relambório não possui uma ideia, não defende uma tese, não pleiteia uma doutrina - e, pior do que tudo, não convence ninguém.
O autor pretendeu, talvez, fazer história e atirar para o limbo um opositor que o ofendera gravemente, além, com perdão da palavra, de amolgar, dolorosamente, um artigo da Constituição. Não é preciso ser muito rigoroso para se verificar o que o prefácio intenta. Mas o autor é tão desajeitado, na forma como no recheio, que o tiro sai pela culatra. Antagonistas e apoiantes, encavacados pelo facto de o prefaciador negligenciar as funções a que devia dar lustre, não param de o desacreditar. O mais tenaz dos críticos, será, acaso, o Marcelo Rebelo de Sousa, que desfez a sustentação institucional feita, em apressada defesa própria, pelo autor.
Este segundo mandato repete, agravando-os, os dislates do primeiro. E alguém, dos círculos íntimos do senhor, devia ajudá-lo a rematar, com dignidade e piedosa lástima, o tempo que lhe resta para sair de Belém.
«DN» de 14 Mar 12ANDA POR AÍ um desassossego de frases agrestes que envolvem um autor e o prefácio a um livro de discursos. O autor é o inexcedível dr. Cavaco. O prefácio é um texto levemente tonto e claramente escrito com a fatal tendência para a quezília e o conflito gramatical. Nada de importante. Impelido pela minha malvada curiosidade, decidi-me a ler o texto, sabendo, de antemão, que tamanho exercício mental ser-me-ia extremamente fatigante.
Espanto dos espantos!, ao contrário do que se diz, o teor não passa de modesta redacção, das que as professoras primárias nos exigiam na antiga terceira classe. Não se vislumbra nenhum ajuste de contas, apenas a expressão mal cerzida da birra de um homem amuado porque um outro o desprezou quando o não devia desprezar. A tal "deslealdade institucional" pode ser criticável, com base numa certa alínea da Constituição, a que o autor se apoia, mas é caso de pouca monta, tendo em aviso o que ele faz a outros, com displicente sobranceria. E as coisas não foram bem assim, a crer nas contraversões seguintes.
Sócrates, que tem sido o bombo da festa, com pancadaria de criar bicho nos lombos e na alma, serve de pretexto, neste parolar copiosamente vesgo, para o autor nos fornecer o estofo do homem e o estilo do estadista. Atordoado com a quantidade e o teor das críticas que recebeu, decidiu remeter os inadvertidos para o "sítio" que alimenta na rede. Disse, grave e soturno: ali está o que, na verdade, escrevi. E alertou para eventuais manipulações de conteúdo, praticadas, como doloso objectivo, pela imprensa.
Precipitei-me, arquejante, para o "sítio", na ânsia de descortinar o que os jornais haviam omitido. Nada de novo, nem de diferente. A mesma peripécia atabalhoada: umas tacadas num homem tombado e cheio de nódoas negras. O pouco edificante relambório não possui uma ideia, não defende uma tese, não pleiteia uma doutrina - e, pior do que tudo, não convence ninguém.
O autor pretendeu, talvez, fazer história e atirar para o limbo um opositor que o ofendera gravemente, além, com perdão da palavra, de amolgar, dolorosamente, um artigo da Constituição. Não é preciso ser muito rigoroso para se verificar o que o prefácio intenta. Mas o autor é tão desajeitado, na forma como no recheio, que o tiro sai pela culatra. Antagonistas e apoiantes, encavacados pelo facto de o prefaciador negligenciar as funções a que devia dar lustre, não param de o desacreditar. O mais tenaz dos críticos, será, acaso, o Marcelo Rebelo de Sousa, que desfez a sustentação institucional feita, em apressada defesa própria, pelo autor.
Este segundo mandato repete, agravando-os, os dislates do primeiro. E alguém, dos círculos íntimos do senhor, devia ajudá-lo a rematar, com dignidade e piedosa lástima, o tempo que lhe resta para sair de Belém.
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1 Comments:
A verdade é que está lá há vinte anos e sai coroado até só por esse facto (foi para lá por eleições). Este é o ponto que todavia não dá sossego.
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