27.3.12

Congreso

Por João Paulo Guerra

O DIRECTOR-EXECUTIVO do Diário Económico escrevia na edição de ontem que o Congresso do PSD “foi um bocejo”.

Ora se o director-executivo escreve que «O congresso foi um bocejo» que posso eu escrever? Que foi uma estopada, uma maçada, uma chatice? É pouco e não diz tudo. O mais adequado será dizer que, excepção feita a dois inspirados momentos, o XXXIV Congresso não existiu.

Tratava-se do congresso de um partido no poder, pondo em prática uma política que conduz o País à miséria, sendo que para o ano que vem o calendário prevê a realização de eleições autárquicas. Se acrescentarmos às políticas mais impopulares do Governo a reforma que visa mexer com o mapa autárquico, teremos o quadro negro do futuro do partido. Os social-democratas podem achar muito bem que se arrase o Estado social. Mas já não admitem se lhes pisem os limites dos concelhos, das freguesias, das quintas, quintais e quintarolas nos quais cada um é rei e senhor. Daí que o fautor da reforma administrativa, Miguel Relvas, tenha sido dado como desaparecido em combate no Congresso. Num dado momento de inspiração, e recorrendo a um passe de mágica, o grande líder do partido e chefe do Governo fez desaparecer o querido líder Relvas da foto de família mais depressa do que Leon Trotsky levou sumiço da caderneta dos cromos dos Comissários do Povo.

Outro inspirado momento foi quando o PSD virou vertiginosamente à esquerda, pensando certamente no eleitorado empobrecido das eleições de 2013. O momento ficou assinalado pelo facto inesperado de todo o conclave desatar a cantar baladas de Zeca Afonso, a mais oportuna das quais foi "O que faz falta...".

E pronto. Congressos era antigamente, quando Sá Carneiro batia com a porta. Ou quando Emídio Guerreiro contava as espingardas.
«DE» de 27 Mar 12

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