26.3.12

Confrontos

Por João Paulo Guerra

O CONFRONTO, a confrontação, o ato de confrontar pressupõe sempre dois ou mais confrontadores.

De maneira que por mais voltas que se deem à língua e aos dicionários não há maneira de vislumbrar qualquer espécie de confronto entre um polícia de choque armado até aos dentes e de chanfalho em riste e uma jornalista carregada de máquinas fotográficas e com uma carteira profissional na mão. Sendo que a relação entre ambos é que um espanca a outra. A foto da Reuters regista o momento em que um polícia de choque português espanca a fotojornalista portuguesa da France Press, no Chiado, em Lisboa, durante uma manifestação associada à greve geral. Espero que a foto tenha corrido mundo para vergonha de quem espanca, manda espancar ou assegura a impunidade de bestialidades como esta.

O termo confrontos, sem cobertura dos dicionários, foi usado pela generalidade dos meios de comunicação para descrever a relação entre agressores e agredidos. No Chiado, os factos terão decorrido por esta ordem: a Polícia identificou e deteve manifestantes, voaram algumas chávenas de uma esplanada sobre a Polícia, protegida com escudos, capacetes, viseiras, coletes, e a Polícia desatou a espancar quem tinha mais à mão, no caso eram fotojornalistas. Será que o uso do termo "confrontos" é recomendado por algum "argumentário do Governo" para cábula de copistas e de "journalistes policiers", como lhes chamava o autor da canção Elle n'est pas morte? Será que fazia parte das instruções que Portugal recebeu da Grécia para reprimir a greve geral um prontuário de termos e expressões para manipular a opinião pública? Ou será que simplesmente foi reeditada para efeitos de provocação, repressão e manipulação a célebre e distante "revolução dos pregos"?
«DE» de 26 Mar 12

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