Semideuses
Por João Paulo Guerra
NA DEMOCRACIA portuguesa só existem heróis e campeões.
Toda a gente teve sempre razão, todos previram e tentaram prevenir certos acontecimentos, com preclara presciência, todos acertaram onde os outros falharam, todos foram iluminados, previdentes, sábios, bons. Os imprevidentes, os obscurantistas e os burros - passe o termo -, como os maus foram em todas as circunstâncias os outros. Sendo que uns e outros são os mesmos, dependendo de que lado da História se situa o narrador.
O Prof. Aníbal Cavaco Silva veio agora, num texto de 6497 palavras e 42500 carateres que constitui o prefácio ao livro VI das intervenções do atual chefe de Estado, dar um valioso contributo a esta visão maniqueísta da cena política portuguesa. Sua excelência terá eventualmente razão quanto à deslealdade do ex-primeiro-ministro José Sócrates. O momento é que é da maior falta de oportunidade, ao acirrar divisões entre portugueses bons e maus, avisados e imprudentes, previdentes e imprevidentes, uns e outros, «nós» e «eles».
No volume agora lançado, o Prof. Cavaco Silva zurze sem piedade a falta de qualidades e de carácter de José Sócrates e só é de estranhar que Belém não tenha considerado em devido tempo que, perante tantas faltas de lealdade, não estavam reunidas as condições de normal funcionamento das instituições e zás, não tenha demitido o Governo. Espera-se agora o livro VII, com notas e observações sobre os meandros da coabitação entre os atuais inquilinos de Belém e de São Bento que, como toda a gente sabe, também não é das mais saudáveis.
Quanto à imensa louvação das qualidades do autor, já dizia Fernando Pessoa, na pessoa de Álvaro de Campos: «Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?»
«DE» de 12 Mar 12NA DEMOCRACIA portuguesa só existem heróis e campeões.
Toda a gente teve sempre razão, todos previram e tentaram prevenir certos acontecimentos, com preclara presciência, todos acertaram onde os outros falharam, todos foram iluminados, previdentes, sábios, bons. Os imprevidentes, os obscurantistas e os burros - passe o termo -, como os maus foram em todas as circunstâncias os outros. Sendo que uns e outros são os mesmos, dependendo de que lado da História se situa o narrador.
O Prof. Aníbal Cavaco Silva veio agora, num texto de 6497 palavras e 42500 carateres que constitui o prefácio ao livro VI das intervenções do atual chefe de Estado, dar um valioso contributo a esta visão maniqueísta da cena política portuguesa. Sua excelência terá eventualmente razão quanto à deslealdade do ex-primeiro-ministro José Sócrates. O momento é que é da maior falta de oportunidade, ao acirrar divisões entre portugueses bons e maus, avisados e imprudentes, previdentes e imprevidentes, uns e outros, «nós» e «eles».
No volume agora lançado, o Prof. Cavaco Silva zurze sem piedade a falta de qualidades e de carácter de José Sócrates e só é de estranhar que Belém não tenha considerado em devido tempo que, perante tantas faltas de lealdade, não estavam reunidas as condições de normal funcionamento das instituições e zás, não tenha demitido o Governo. Espera-se agora o livro VII, com notas e observações sobre os meandros da coabitação entre os atuais inquilinos de Belém e de São Bento que, como toda a gente sabe, também não é das mais saudáveis.
Quanto à imensa louvação das qualidades do autor, já dizia Fernando Pessoa, na pessoa de Álvaro de Campos: «Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?»
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