Não há quem os ensine a falar?!
Por Ferreira Fernandes
FELIZMENTE os doutores de Economia não costumam ir para doutores dos bancos de urgência. Nestes, quando uma mãe leva lá o filhinho constipado, o médico receita um comprimido de paracetamol e diz que a febre vai baixar. Se a mãe for galinha e destravada, pergunta: "Mas, doutor, o meu menino pode vir a ter um cancro no pâncreas?" Ao que o médico de hospital só pode responder: "Oh, minha senhora, dê o comprimido ao miúdo e tenha juízo ..."
Isso, nas urgências, porque se sucede no intervalo do encontro dos ministros das Finanças da UE, como agora se realiza em Copenhaga, abordar um doutor de Economia pode começar bem mas logo tresmalha.
Por exemplo, o professor Vítor Constâncio fez o discurso a que o bom senso obriga: os spreads (é como se diz febre em economês) estão a baixar para Portugal e os mercados (é como se diz vírus) estão a acalmar... Enfim, disse bem e não mentia. O problema é que Constâncio estava rodeado de jornalistas e, como se sabe, nada mais parecido com mães destravadas do que um tipo com microfone: "Mas, doutor, o meu Portugal vai ser obrigado a segundo resgate [é como se diz, para países, cancro no pâncreas]?", lançou um jornalista. O doutor devia tê-lo mandado passear. Mas o doutor não era de banco de urgência e deu a resposta parva de um vice-presidente do Banco Central Europeu: que tudo era possível, cancro e segundo resgate.
Enfim, mostrou como é possível estarmos nas mãos de incompetentes da palavra.
«DN» de 1 Abr 12FELIZMENTE os doutores de Economia não costumam ir para doutores dos bancos de urgência. Nestes, quando uma mãe leva lá o filhinho constipado, o médico receita um comprimido de paracetamol e diz que a febre vai baixar. Se a mãe for galinha e destravada, pergunta: "Mas, doutor, o meu menino pode vir a ter um cancro no pâncreas?" Ao que o médico de hospital só pode responder: "Oh, minha senhora, dê o comprimido ao miúdo e tenha juízo ..."
Isso, nas urgências, porque se sucede no intervalo do encontro dos ministros das Finanças da UE, como agora se realiza em Copenhaga, abordar um doutor de Economia pode começar bem mas logo tresmalha.
Por exemplo, o professor Vítor Constâncio fez o discurso a que o bom senso obriga: os spreads (é como se diz febre em economês) estão a baixar para Portugal e os mercados (é como se diz vírus) estão a acalmar... Enfim, disse bem e não mentia. O problema é que Constâncio estava rodeado de jornalistas e, como se sabe, nada mais parecido com mães destravadas do que um tipo com microfone: "Mas, doutor, o meu Portugal vai ser obrigado a segundo resgate [é como se diz, para países, cancro no pâncreas]?", lançou um jornalista. O doutor devia tê-lo mandado passear. Mas o doutor não era de banco de urgência e deu a resposta parva de um vice-presidente do Banco Central Europeu: que tudo era possível, cancro e segundo resgate.
Enfim, mostrou como é possível estarmos nas mãos de incompetentes da palavra.
Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Não concordo com a comparação (equivalência) entre a questão colocada pela mãe ao médico e pela dos jornalistas a V. Constâncio.
A 1ª é extemporânea, a outra não.
A 1ª é uma divagação hipocondríaca, a outra é uma questão bem real e, porventura, de curto prazo. Dar-lhe resposta (ou, no mínimo, analisá-la seriamente) corresponde ao velho aforismo da política e dos negócios: «Gerir é prever».
Enviar um comentário
<< Home