2.4.12

Processo de tapar cabelos em curso

Por Ferreira Fernandes

ESCREVI há pouco mais de um ano, aqui, sobre o Egito de então: "De um lado, povo; do outro, ditador. Mas é um jogo com regras complicadas: façam zoom àquelas caras sem véu nem lenço. Estão do lado do povo mas amanhã podem ter de ter véu e lenço em nome de mais alto que o povo. Seria um resultado péssimo (definição de péssimo: pior que mau).
Não tenho mestrado em Relações Internacionais mas já vi um filme parecido em 1979"... Era essa memória que me levou a ter feito aquela crónica e dar-lhe por título "Assumidamente sem me empolgar". É que naqueles dias do ano passado havia gente esperançada com as enchentes da Praça Tahrir. Eu não, porque frequento as sessões da minha TV Memória pessoal e tinha (e tenho) demasiado presente o drama iraniano. No Irão, as mulheres esperam há 33 anos. Há 33 anos... - é uma vida para os cabelos, muitos só vão reaparecer mortiços e brancos.
Depois daquela crónica sobre o Egito, os Irmãos Muçulmanos (movimento político-religioso que pertence à definição de péssimo dada acima) ganharam as eleições legislativas. No sábado, eles anunciaram que vão concorrer às presidenciais de maio - ao contrário do que diziam antes, para tranquilizar os adversários.
O apetite do poder, como sempre, vem com o comer. Isto é, estamos a semanas de os Irmãos Muçulmanos deterem todas as rédeas políticas. Em breve, para voltar a ver cabelos de egípcias vou ter de recorrer à minha TV Memória.
«DN» de 2 Abr 12

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