Bom dia, Gustavo
Por Antunes Ferreira
HÁ TRÊS DIAS, o Gustavo foi finalmente sujeito à
transplantação de medula que lhe deve salvar a vida. O Gustavo é um menino de
entre os muitos que sofrem de uma doença chamada aplasia medular. Porém,
tornou-se o mais conhecido depois de Cristiano Ronaldo ter lançado um apelo
para ser encontrado um dador para o filho do seu companheiro na seleção
nacional de futebol, Carlos Martins.
A operação de transplante correu dentro do normal de
acordo com a equipa médica o que foi excelente, como é óbvio. A saga do pequeno
Gustavo transformou-se num enorme movimento de solidariedade com milhares e
milhares e milhares de potenciais dadores a inscrever-se. A grande questão era
a compatibilidade entre o dador e o doente. Enfim dos Estados Unidos surgiu um
nome que correspondia à necessidade. E as coisas parece terem corrido bem.
Agora, dentro de um mês poderá dizer-se que sim.
Este texto não devia ser assinado por mim, pois é
apenas a introdução de uma carta maravilhosa enviada ao menino pelo Casal das
Letras, blogue excelente da autoria da Maria Augusta Silva e do Pedro Foyos,
grandes jornalistas, que comigo trabalharam – e muito bem - no DN. A nossa
amizade já vem de muito mais longe e tenho acompanhado a luta da Maria Augusta
contra um cancro, o seu cancro, desde Luanda e antes do 25 de Abril.
Sem lhes pedir autorização, falta que, estou certo, o
casal me perdoará, aqui fica o registo desse texto impressionante e excecional.
Que, como disse, saiu no www.casaldasletras.com.
Nos últimos tempos,
Gustavo, muito se tem falado de ti, não só pela demora desesperante de oito
meses para encontrar um dador de medula mas também e sobretudo pela notoriedade
futebolística do teu pai, propiciadora de uma impressionante onda de
solidariedade. Finalmente, Gustavo, vai ser possível realizar o transplante
alogénico que debelará a tua aplasia medular. Desculpa empregar estas palavras
complicadas, mas as doenças terríveis escondem-se sempre nestes emaranhados
para aliviarem o peso da realidade.
De momento, Gustavo,
agora que tudo foi feito no sentido de o teu organismo não vir a rejeitar as
novas células que vai receber, é importantíssimo que saibas o seguinte: estará
sempre a acompanhar-te uma equipa fabulosa, tanto que, se fosse possível
transpô-la para o campo futebolístico, nem o teu pai conseguiria evitar uma
derrota por dez a zero!
O velho capitão dessa
equipa invencível chama-se Manuel Abecassis. Já o deves ter visto aí no IPO. É
aquele senhor de cabelo branco com laivos de prata e olhos doces que de vez em
quando te espreita e te sorri enquanto vai conversando rodeado dos restantes
jogadores: conversas sobre táticas de ataque, fintas, coisas assim, bem
conheces a toada.
Sabes que ele foi o
pioneiro em Portugal neste género de desafios? Pioneiro quer dizer: foi o
primeiro a driblar em toda a linha um adversário de respeito no campo em que tu
estás agora, precisamente aí. Esse adversário, com o feiíssimo nome de
Leucemia, levou cá uma cabazada! O costume, dez a zero, toma lá e vai decorar.
Porém, a grande vencedora, quem levou a Taça da Vida, maior do que ela própria,
foi uma menina da tua idade, chamada Inês. Ela estava muito doente, a vida por
um fio. A estratégia de então foi engraçada. Havia hipóteses de ser salva se
tivesse um irmão ou uma irmã. Mas a Inês não tinha irmão nem irmã. Então os
pais, com muito amor, resolveram fazer um bebé, ao qual seria dado o nome de
João Miguel. E o João não esteve com meias medidas. Logo-logo que nasceu, a
primeira coisa que fez foi salvar a Inês. Um dia terás interesse em conhecer
"A história de Inês". Ficarás espantado com as coisas extraordinárias
que acontecem neste mundo. A começar por ti.
Gustavo: vemo-nos no
final do dérbi, na festa da vitória.
Etiquetas: AF
1 Comments:
AF
Tenho a certeza, que o Gustavo vai vencer. Ele tem cara de lutador.
Faço um apelo; Quem puder doar sangue ou medula, faça-o.
Infelizmente, devido à idade e problemas de saúde, já não posso fazê-lo.
Durante anos, dei sangue. A paz e tranquilidade, que sentia depois, não sei descrever. Um pouquinho de sangue ou medula, que não nos faz mal nenhum, pode salvar uma vida.
Senti-me sempre muito feliz, depois de dar sangue. Não custa nada e pode salvar uma vida.
Força Gustavo, Inês e todos os meninos ou crescidos, que precisem. Ainda há pessoas com sentimentos.
Como a Inês, deve amar o irmãozinho.
Maria
Enviar um comentário
<< Home