Não é tempestade num copo de água
É ACONTECIMENTO da semana passada mas tenho de voltar ao copo de água
da torneira a 50 cêntimos num snack bar algarvio. O problema é que já
não se fala dele. No entanto, ele é-nos estrutural, revela mais e
conta-nos melhor, por exemplo, que a absurda história do superespião.
Quando apareceu a notícia - um bar, numa praia de Faro, faz-se pagar
pelos copos de água da torneira -, os jornalistas embicaram para uma das
duas autoridades a que geralmente apelam quando precisam de explicar um
acontecimento. Não foram ao psicólogo, foram ao doutor de leis. Falaram
para a ASAE, que os sossegou, a lei não interdita que um copo de água
da torneira seja cobrado. Pronto, torneira fechada sobre o assunto.
Mas
há notícias em que não importa a lei. Porque o problema não é multar nem
prender o tendeiro. O problema é que, em plena crise nacional
arrasadora, haja comerciantes - gente que troca, que dá e recebe, e que
vive disso - a decidir serem misantropos e agir como a velha do 7.º que
passa por mim e não me cumprimenta porque não precisa de mim.
Essa era
notícia para ser explorada, comparada, instigadora de porquês e de
prováveis soluções. Porque não é uma tempestade num copo de água, é
mesmo uma tempestade denunciadora da nossa impotência. O comerciante em
causa disse que já outros fazem o mesmo. Era necessário confirmar,
porque se os há, concedo, desta vez, que precisamos mesmo de psicólogos
para nos explicar a vaga de estupidez.
«DN» de 23 Mai 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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